ATEU. GRAÇAS A DEUS.


Não sei. A falta  de argumento e a obrigação que me imponho de escrever alguma coisa se transforma em desafio. Nada de idéia, nem de assunto. Como é difícil esta merda de ter que escrever. No meu caso, pretensioso e preguiçoso que sou, realmente  torna-se difícil passar um texto sem motivação, assunto ou vontade. Mas muitas vezes foi assim que comecei minhas obras primas  Estou achando que este é mais um exemplo. Sim, tenho muitas obras primas. Pena que o mundo não as conhece. Ninguém as conhece. Vou dormir  muitas noites, certo de que passei a quem por desgraça leu em meus textos algo do que se passa no seu coração, e se reconfortou. Durmo feliz, achando que de alguma forma, dentro da minha mediocridade estaria passando à  alguém mais medíocre ainda, algo de positivo que ensejasse ações de fortalecimento do caráter e do bem que existe em todo o ser humano; quem sabe um nó na garganta, abafando a emoção, válvula de escape para suportar o cotidiano. O ser humano não lê. Não lê porque não sabe ler. Porque ler é tempo e tempo é sobrevivência. E a sobrevivência é mais importante que a literatura. Sei que com as minhas obras cada vez mais primeiras, na  medida em que vou perdendo os escrúpulos e escrevendo sobre o que realmente penso, ou melhor, quanto mais penso mais me desprezo porque nada do que penso ou sinto resiste a alguns momentos de reflexão. Sendo assim, a obra prima da noite anterior se torna lixo na manhã seguinte. O maior problema é que o que realmente penso e sinto  de um momento para o outro muda  de direção como o vento  como a insegurança do mais seguro dos mortais. A vida é rio correndo para o mar, é o medo de exame de sangue, da aids, é a bolsa de valores, é a polícia, é a justiça dos homens. Pena que em termos de justiça, como não acredito na dos homens e como não creio na do céu, encontro-me perdido nas minhas certezas. E assim, na condição de ateu, já decidi: Seja o que Deus quiser.

 

 

Humberto Bley Menezes