...EU NÃO ACREDITO NA VERDADE, TUDO ACABA EM DESCULPAS...

"...o homem vive como um verme, mas escreve como se fosse para Deus. Houve um tempo em que se sabia desse segredo, hoje o esqueceram..."

IMRE KERTÉSZ

Quando mais jovem costumava jogar o RPG "Vampire, The Mask" em que as ações se focam basicamente em mentiras. Não passa de um jogo, mas lembro de ter me assustado algumas vezes com o grande número de não jogadores que faziam parte daquele universo. A compulsão pela mentira, pelo prazer de enganar ou a simples idéia de se dar bem acima de qualquer coisa. As palavras não perderam a força, acho que talvez tenhamos perdido a noção de como é fácil agredir ao próximo com frases não pensadas, ofensas propositais e mal entendidos que facilmente poderiam ser evitados. O que ocorre é que facilmente conseguimos pedir desculpas sem que, por vezes, saibamos o que realmente aconteceu, se a culpa pelo constrangimento que fica após essas situações é de uma única pessoa ou de todos os envolvidos. Parece que não prestamos mais atenção no meio em que vivemos e aí qualquer brincadeira, seja de mau gosto ou não, vale a pena ser feita, pois assistimos no horário nobre alguma pessoa sendo humilhada e vale a pena passar aquilo para a frente, aplicando a mesma bobagem com alguém próximo a nós. A sensação que fica por aqui é a de que não conseguimos mais diferenciar o que é bacana do chato, se aquilo que fazemos nos satisfaz ou simplesmente nos engana frente a impossibilidade de executarmos nossas próprias idéias, tão contrárias ao que nos chega. Penso que é hora, no meu caso, de retomar a leitura, se é pra vivenciar algo que não é real, que seja o universo da minha imaginação e não a verdade fabricada que encontro diariamente pelas ruas que cruzo em uma rotina que vem se tornando feia.