O BATOM – {Fatos Reais4}

O BATOM

(Essa é pra você, Val)

Em 1989, uma de mihas filhas, então com três anos, viajava de Ônibus com sua mãe, era o 918-Bonsucesso X Bangu, e a menina, muito conversadeira, logo-logo, puxou conversa com a ocupante do banco ao lado, sobre a sua beleza, os cabelos e o seu tamanho; sobre o batom que ela usava e as cores no rosto(esta menina, desde bebe, sempre teve fascínio por maquiagens e batons; sobretudo batons bem vermelhos - não foram poucos os destruídos por ela entre seis e onze meses, quando os lambuzava por todo o rostinho tentando ou pensando passar nos lábios e outras vezes comendo-os mesmo- rsrsrs.

A mãe, logo tentou interromper tal diálogo,”_Cala a boca menina!”; porém a moça, jovem mãe de um menino de cinco anos que não falava a metade do vocabulário dela, encantada com o diálogo interferiu à favor de minha filha: “_deixe ela falar, que coisinha mais bonita e inteligente... como fala bem!”

Então, com a corda dada, ela perguntou “o xeu nome, onde voxê mora, quantos anos voxê tem, etc, etc; de repente, o que a mãe temia:

“_Voxe xabia que exe batão vemeio não é de Deus? Pois é; eu sou crente e vou pro xéu porque eu não uso um batão dexe não porque papai do xéu não gosta. A minha tia falou!; num é, mãe? Voxê já foi a igueja?”

A mãe, tentou esconder o rosto com a vergonha e “calar” tal atrevida: “_Menia! Cale a boca!”; mas a moça, numa espontânea e sonora gargalhada, tocou levemente o ombro da mãe dizendo entre um riso e outro;

“_Calma senhora;(rsrsrs) ela está defendendo a crença dela(rsrsrs), deixe eu defender a minha...rsrsrsrsrs”; e pra minha filha: “_Ora menina; eu também sou crente e vou a igreja sim, e também vou pro céu. Se eu uso o batom é porque eu preciso estar bonita no meu trabalho. Eu sou secretária e as secretárias tem de andar bem maquiadas, assim como eu...”

Espertament a menina perguntou o que é sequetália e enquanto a moça distraiamente tentava explicar, ela sorrateira e inesperadamente, empurrou o dedinho indicador de uma das mãos nos lábios da senhora, esfregando em cima e em baixo e rapidamente lambusou os seus próprios lábios “roubando assim”, um pouquinho daquela cor. A mãe, já sem ter onde esconder o rosto, tentou bater nas mãos dela, mas a moça, com um gesto de desaprovação segurou-lheas mãos, negativando a cabeça e dizendo que criança é assim mesmo; ato contínuo, abriu a bolsa, pegou seu batom vermelho, retocou os lábios, pintou os de minha filha após passar um lencinho descartável no borradinho e presenteou-a com o seu batom. Novamente a mãe tentou impedir, mas ela disse: “_é dela agora” e a menina completou no ato:

“Obigado, num deixo ninguém pegá poque exe é meu! Voxe me deu ele pá mim!”

A moça sorriu, despediu-se e desceu no próximo ponto, que era o seu.