Amor entre calangos

Ontem à tarde fez um calor terrível. Estava estendendo roupas na varanda quando de repente olhei para o quintal, até pensei que fosse um rato, e vi um casal de calango fazendo amor. Confesso que fiquei com um pouco de inveja, não da calanga, mas do ato em si. Enfim. Fiquei observando aquela cena rara, quando de repente o calango sai de cima da calanguinha. Ela era pequena demais para ele. Até disse a ele: - “você é muito sem vergonha”. E mais, ele nem deu bola pra ela. Depois do ato, ele foi procurar uma sombra e ali ficou balançando a cabeça para cima e para baixo. Pressuponho que seja respiração ofegante, logo após ato consumado.

Essa cena me levou a seguinte reflexão. Já imaginou se entre humanos, o homem ou a mulher logo após o ato sexual, cada um virasse para o lado e nem aí para o outro? Assim como o calango fez com a ‘calanguinha’. Ora, sabemos que existem muitos homens e mulheres ‘calangos’, mas, quando isso acontece vocês já sabem. Não importa se o sexo foi bom para ambos, se subimos aos céus, se o vinho foi da melhor safra ou se o espartilho custou os olhos da cara. O fato é o seguinte: se não rolar um papo, um carinho, um brinde - a casa cai, as criticas despencam, o falatório começa e aquilo que foi tão bom, perde o sentido, simplesmente, porque nós humanos necessitamos não só do ato em si, mas de carinho, elogios, atenção. Mas será que é só isso? Não. Os humanos, muito diferente dos animais, têm a necessidade de significar os acontecimentos. Algumas pessoas não entendem isso. Mas essa necessidade faz parte do processo de darmos sentido à vida. Daí a pergunta: Foi bom para você?

Mas, melhor do que contemplar o amor entre calangos é admirar os beijos entre pombinhos. É a maior orgia. Eles se beijam de três, isso mesmo, ‘ménage à trois’, e ali a gente nem sabe se são dois machos e uma fêmea, ou duas fêmeas e um macho. Ou então, todos do mesmo sexo. Enfim, embora eu acredite que a monogamia seja algo cultural, não vou me arriscar refletir sobre os pombinhos, porque o reino animal nesse aspecto é muito mais livre que o reino humano.

Silvia Santana
Enviado por Silvia Santana em 29/09/2009
Código do texto: T1837745
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