LADEIRA DO JOÃO
Moro numa ladeira
e meu nome é João Ninguém
moro de aluguel, trabalho muito,
não ganho tanto, mas ganho o que
meu patrão pode pagar.
Meu patrão é o João Gente Boa.
João Gente Boa é... gente boa mesmo!
Trabalha bastante e dentro do possível
ajuda a muita gente.
Ele se dá bem com todo o mundo,
inclusive com o João Malandro.
João Malandro chegou de mansinho
na ladeira, começou a vender
cigarro de palha e açúcar cristalizado.
Ficou rico, chamando a atenção de
João Xerife, que subiu a ladeira.
João Malandro não queria encrenca
com João Xerife,
por outro lado, João Xerife também
não queria encrenca com João Malandro.
Então os dois resolveram negociar,
João Malandro ofereceu
uma porcentagem do lucro.
-Aqui em cima, não é bom pra mim,
disse Xerife.
-Eu mando alguém levar
lá embaixo, retrucou Malandro.
O escolhido foi João Gente Boa.
Ora! João Gente Boa era muito honesto
e recusou.
João Malandro temendo que Gente Boa
o denunciasse por malandragem e,
João Xerife temendo que Gente Boa
o denunciasse por desonestidade,
resolveram bancar uma passagem
só de ida a João Gente Boa,
para um lugar chamado "ETEREOLÂNDIA"
e assim foi feito.
Eu, João Ninguém, fiquei
sem emprego e sem poder pagar aluguel.
Só não fui pra rua da amargura,
porque João Malandro me deu
um barraco de alvenaria e um "emprego":
levar a porcentagem do lucro
para o João Xerife.
Eu sem pensar duas vezes, aceitei.
Passei a ser muito bem tratado
por João Malandro
e por João Xerife,
além de ter ganho casa própria
e trabalho bem remunerado.
A conclusão dessa história
e da minha própria vida
é a seguinte:
Hoje João Xerife é gente boa,
João Malandro é muito gente boa!
O João Gente Boa, coitado!
Hoje ele é João Ninguém
e eu, outrora João Ninguém,
hoje não sou merda nenhuma!