FALA-SE MUITO: SE ENTENDE POUCO

Os seres humanos foram agraciados com o dom da fala, e sabem-se fazer entender das mais várias formas, existe até a linguagem dos sentimentos, a fala dos apaixonados.

Fala-se com as mãos, com o olhar, com a boca, com cada gesto minuciosamente programado pela mente, há e fala-se com a mente também. O corpo talvez seja o que mais fala, além da própria boca que fala, e fala muito.

Estamos falando todo o tempo, no trabalho, na escola, na família, nos relacionamentos, onde houver um espaço, lá estamos nós falando e falando, não parando mais. Mas nem todo aquele que fala é entendido, o entendimento é para poucos.

Um dos fatores que tem contribuído para essa falta de entendimento com certeza é a falta de audição. Não estamos mencionando as pessoas que são surdas, não estamos mencionando as pessoas que não podem ouvir e sim as que não sabem ouvir as outras ou mais gravemente as que não querem ouvir as outras pessoas.

A questão também não é um fator de higiene pessoal.

Desde crianças somos acostumados a não sermos ouvidos, é comum frases do tipo “Agora não é hora do jornal”, “Depois você fala mamãe tá ocupada agora”, ou simplesmente responde com aquele velho “Ram; sim, to ouvindo”, e não estão.

Se não somos ouvidos tão poucos aprendemos a ouvir. Acostumamos então a sermos plenamente atônicos a necessidade do outro, que as vezes é apenas a de ser ouvido.

Ao crescermos com este “defeito”, a tendência é só agravar, ai não ouvimos nosso cônjuge, nem ouvimos os nossos filhos, o que gera quadros familiares em crise. Quanta vezes somos surpreendidos com um “EU te disse”.

A fala, além de um meio de comunicação é um excelente remédio contra a solidão, se temos com quem partilhar.

Devemos pensar a fala e o ouvir como um ciclo ou uma via de mão dupla, se quer ser ouvido, ouça também. Sem cobranças, com respeito aos sentimentos do outro, não precisa opinar, mas apenas ouvi-la, para entendê-la, para compreendê-la.

Imagino que num mundo que houvesse mais ouvidos, não necessitaria de tantos médicos, de tantos psicólogos e de tantos psiquiatras. Tratamentos custosos seriam prevenidos com apenas algum tempo gasto com quem tanto dizemos “AMAR”.

Refaça sua comunicação, cerque de ouvidos os que fazem ao seu gosto ou contragosto, parte de seus círculos sociais. Mesmo que isso pareça perca de tempo, mesmo que pareça complicado, ouça!

Pois mais vale o silêncio de uma oração que as sonoras badaladas do sino convidando a orar. É possível dar as mãos... É possível.

Cyrlene Rita dos Santos 24/05/09.