SEGREDOS SÃO SEGREDOS... (EC)

A palavra secretária vem de secretum, ou seja, aquele a quem são
confiados segredos.
Diz a lenda...
Originariamente, lá no tempo dos faraós, os secretários eram homens
chamados de escribas e segredos mantidos sob severas penas...
A mais leve era arrancar-se a língua do tagarela.
Secretários têm código de ética, além de outros códigos secretos...
Um deles diz, e não é lenda, que no exercício de sua profissão deve
guardar absoluto sigilo sobre assuntos e documentos que lhe forem
confiados...
Com o advento do feminismo, as secretarias foram tomando conta do
mercado e de muitos segredos da empresa e dos chefes...
Mulheres... Ah! As mulheres...
Muitos segredos por força do vício da tagarelice deixaram de serem
segredos, para compensar outros segredinhos que as secretarias
mantêm com chefes...
Todos têm seus segredinhos, não é verdade?
Claudenice (Nicinha) era uma secretaria que tinha a imagem de quase
perfeita no seu trabalho na “pequena” empresa de contabilidade, administração de bens móveis e valores; factoring e intermediação e corretagem de imóveis; recrutamento e treinamento de pessoal; prestação de serviços em geral, despachante aduaneiro e congênere.
Verdadeiro cão de guarda do Sr. Irineu, o Neusinho, como ela carinhosamente o chamava... Achava que sabia tudo da vida do chefinho...
Horário de reuniões, desculpas para clientes dizendo que ele não estava e desculpas para a Vanda, mulher do Irineu, quando ele não estava...
Secretárias têm muitas semelhanças com mulheres de políticos em geral...
Quando são tiradas da parada são um perigo maior que granada sem trava...
Um alerta: “Nunca confie nada secreto à secretaria! Muito menos segredos secretos...”
Era isso que a Nicinha julgava saber...
Os segredos secretos do Neusinho...
Não! Eles não eram amantes...
Ao oposto, Neusinho mantinha-lhe um distanciamento celibatário... Não lhe desviava um olhar... Nem quando a Nicinha subia com seus vestidinhos curtos na escadinha para pegar algum documento na prateleira, ele prestava atenção nela...
O que causava muita estranheza à moça, pois o que não faltavam eram interessados...
Nicinha parecia deter o poder de influenciá-lo. Palpitava quanto a contratação e dispensa de funcionários na empresa, onde ela era a única mulher...
Sugeria a contratação de prestadores de serviços que intermediava...
Secretamente, cobrava pequenas comissões para colocar propostas à frente ou assinalar com algum detalhe para análise do Sr. Irineu.
A Nicinha tinha uma cisma com o Marivaldo (Marinho)...
Enciumava um pouco ele, por vezes, fosse chamado à sala do chefe e lá
ficasse por boa hora, com ordem de não serem interrompidos, de modo algum...
Nem se fosse telefonema da dona Vanda...
Mas o Marinho tinha um carguinho tão sem importância... Simples almoxarife...
Um dia, dona Vanda (sem codinome) entrou feito uma fera no escritório...
Nicinha, a custo, conseguiu impedi-la de entrar de supetão na sala do chefe...
Assustado com o barulho, Irineu saiu, esbaforido e cheirando uísque...
Atrás veio Marinho, calçando os sapatos...
Vanda estava incontrolável... Aos gritos dizia que alguém ligara para sua casa dizendo absurdos muito suspeitos sobre o Irineu...
É esta mulherzinha sua parceira? Berrou nas tamancas a Vanda para o marido,
que desceu do cargo de Sr. Irineu, o chefe, para o tamanho de um Neusinho...
A óbvia resposta “não sei do que você está falando” ou “não sei de nada” veio mecânica...
Nicinha defendendo-se, com temor do ódio que espumava de Vanda, tentou, ingenuamente, aproveitar a oportunidade de livrar-se de Marinho e disparou:
“É ele o companheiro do Sr. Irineu! Ficam horas trancados na sala e a senhora mesmo viu que ele estava sem sapatos...”
Vanda, ainda mais enfurecida, se destrambelhou:
“Cale a boca, enxerida! Não é da sua conta se eles são gays! Que preconceito!”
Nicinha ficou desarmada... Ela que pensava saber de tudo e ter trunfos na mangas de seu vestido de alcinhas desabou no sofá... Sua auto-estima desabou junto... Havia coisas que ela não sabia...
Irineu estava envolvido em algo que lhe escapava ao conhecimento...
Instantes depois ao início da confusão foi expulsa, por unanimidade, da sala e os demais ficaram reunidos, inicialmente discutindo de forma nervosa, mas a noitada terminou numa pizzaria regada a bom vinho.
No dia seguinte, Nicinha foi demitida da empresa pelo próprio Chefe que não admitiu a atitude traiçoeira da moça...
Marinho, com a aprovação de Vanda, passou a ocupar seu cargo...
Ele sim sabia dos segredos do Chefe (como chama ao Irineu) e não os revelou
de modo algum...
Nem no interrogatório da Polícia Federal, que assim como eu não ficou sabendo qual era o segredo...
Nem adianta tentar perguntar ao Marinho...
Foi encontrado morto e cremado...
Ou vice-versa...
As causas serão apuradas rigorosamente, prometeu o delegado à Imprensa, antes de descobrir que Vanda e Irineu viajaram para a Europa e formataram todos os computadores...
Há rumores que Marinho estivesse de namorico com Nicinha, que se mudou para o interior...
Segredos são muito perigosos...
Melhor nem sabê-los...


Este texto faz parte do Exercício Criativo “O segredo”
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Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 05/10/2009
Reeditado em 05/10/2009
Código do texto: T1848989
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