...O SORRISO BOBO QUE O LONGO BOCEJO DEIXA...

Noite quente e as ruas se oferecem para pés cansados da falta de contato com o chão. Eu levo ela comigo pra caminhar. Ela que logo de cara me alerta sobre o trabalho silencioso do amor. Nenhum som atrapalha a melodia que inunda a cabeça com ondas de um eterno vai em vem suave durante a andança solitária. Seria até bom ter alguém no cangote, mas não, a solidão não é feita de meninas amantes, amigos, "comadis", "cumpadis" ou qualquer coisa que o valha, há apenas o balançar dos cabelos que se enrolam no meu jeito desengonçado de andar. A distância não incomoda, sigo em frente, sem pressa de voltar para a nascente dos passos que nunca se cansam, e também não me preocupo se não encontrar o caminho de volta. Eu gosto de me perder com o vento característico das madrugadas batendo no rosto, e de me misturar aos vira latas que se tornam os reis do bairro quando a maioria das residências se desligam. Ficam apenas os postes iluminando o rastro de um "insoníaco", que luta contra o girar do ponteiro do relógio quando não consegue dormir. Em meio ao cansaço, a imagem de uma menina que não conheço começa a se formar, sei que ela apenas imita as rosas, trazendo cores e perfume para enfeitar a vida de um sonâmbulo estranho que não dorme, de um quase louco que busca uma espaçonave para que possa, na bubuia, escapar do bocejo coletivo que toma conta da arte que chega a seus olhos. Hoje os sonhos virão para que eu possa encontrá-la para rirmos de nossas bobagens quando a luz da manhã nos separar outra vez...

* Caminhando com o CD "Vagarosa" da CÉU em minha cabeça...