ENCONTRO COM PORCO-ESPINHO

Outro dia lembrei-me da primeira vez em que vivi uma história envolvendo porco-espinho, ou oriço-cacheiro, como meu pai costumava chamá-lo.

Morávamos em uma fazenda e um dia saímos para uma festa na casa da Dona Neninha. Logo bem de madrugadinha meu pai arreou os cavalos e partimos. Uma de minhas irmãs engarupou-se a mim para eu não seguir sozinha em um cavalo.

A festa foi maravilhosa, assados deliciosos, macarronada caseira e doces servidos com sequinhos de polvilho. Tudo feito em casa. À noite houve o baile à luz das lamparinas a querosene, que nós crianças não participávamos.

Voltamos dois dias depois, a viagem era longa e cansativa, porém, ao chegarmos a nossa casa levamos um grande susto. Nossos cachorros, a Bagunça e o Duque haviam se encontrado com um porco-espinho. Ambos estavam imóveis, estáticos, gemendo de dor e com os corpos cheios de espinhos do bicho. Eram muitos, fincados em meio aos pelos dos cachorros. Meu pai disse-nos assim: Os dois brigaram com o oriço-cacheiro. Esse bicho joga espinho na gente e dói muito.

Então meu pai tomou um alicate, minha mãe segurou primeiro o Bagunça, depois o Duque, e começaram a arrancar os espinhos, que eram longos e pontiagudos.

Os anos se passaram e eu nunca mais vi um espinho de porco-espinho. Todavia, nestes últimos tempos dei-me conta de que tenho encontrado o bicho por aí.

Há pessoas que passam suas vidas jogando espinhos nos outros. São os especialistas em espinhos. Tem o espinho da inveja, tem o espinho da maledicência, o da competição desnecessária, o da arrogância, o da soberba e tantos outros... Tem até o espinho da falta de educação no trânsito. O porco-espinho, dono desse espinho, gosta de xingar, passa no vermelho, faz ultrapassagens proibidas, assusta os pedestres e assim segue seu caminho...

Meu pai disse que se o espinho entrar na pele da gente dói muito, mas fico estudando para saber como me comportar diante do bicho sempre que ele quiser me atacar.

O melhor mesmo é nunca sermos atacados por um porco-espinho, assim como foi o Duque e o Bagunça.

Vicentina Vasques
Enviado por Vicentina Vasques em 07/10/2009
Código do texto: T1852303
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