Contenda no trânsito – carros e, motos, na disputa das ruas...

Contenda no trânsito – carros e, motos, na disputa das ruas...

Descendo a avenida Anhanguera no fim da tarde. O caos apresenta suas diversas e tensas faces: caminhões de carga disputam lugar com os carros de passeio, buscando a BR 153 no sentido Brasília; pessoas atravessam a rua na menor folga. Algumas, saltam inesperadamente as guardas da faixa de coletivos. E o exército de motoqueiros abre caminho entre os carros e, entre eles mesmos, lançando mão do espaço das calçadas e, das faixas de pedestres, que utilizam para retorno. Àquela hora, quando todo mundo procura nervosamente o caminho de casa, quem precisa atravessar a rua à pé, tem um cuidado especial com eles. A fiscalização do trânsito municipal às 18:00h. Então...

Dentro do carro, talvez a título de distração, penso em alternativas para esse processo caótico diário que amedronta e enerva muitas pessoas e vitima tantas outras. O que fazer? O que eu poderia dizer sobre uma questão tão presente e, que é debatida até a náusea, na imprensa e congressos locais?

A questão é meio óbvia, penso: o cidadão pode não ter o transporte público que merece. Diante do impasse na adoção viável, ele trata de procurar uma solução rápida, possível e, no limite de suas possibilidades.

O transporte coletivo local não funciona a contento. Fizeram uma licitação prometendo melhoras. Mas, então, só compareceram as empresas que já atuavam na região metropolitana, para disputar seu objeto. Um mistério!, diriam. Mas, nesse Brasil, há menos de mistérios, do que negociatas e, acordos feitos à sombra... A licitação acabou como um negócio de compadres e, o que ocorreu até agora foi a troca dos ônibus velhos por ônibus novos.

Um sistema de metrôs, o reescalonamento e, zoneamento do fluxo de veículos e, a implementação de ações de educação e fiscalização de trânsito efetivas parecem as medidas de efeito mais abrangentes, mas quando se toca no assunto, os administradores públicos, com raras exceções reviram os olhos entram numas de falar em projetos que não se realizam, de medidas preliminares. Isto quando não mudam de assunto.

Para ordenar o caos - que, em grande parte das vezes, é decorrente da inércia dos agentes públicos, o dinheiro nunca aparece, se sabe. E, quanto à fiscalização de trânsito, boa parte da imprensa e, dos políticos pressionam as autoridades contra a sua implementação com um argumento sem-vergonha, denominado “indústria de multa”, destacando e insistindo em ações educativas apenas para justificar a defesa de sua tese irresponsável.

Ah, esse tal de jornalismo de serviços e, as autoridades da mentalidade frívola e omissa...

Sem solução global e, rindo das alternativas apresentadas pelas autoridades, a turma parte para a solução individual. Quem pode, compra um carro. Quem não pode, entra num consórcio, financia a longo prazo e compra uma motoneta ou, motocicleta leve e, cai no fluxo de trânsito sem certeza, mas com a solução precária ao seu alcance.

E, me recordo que, Dias atrás, discutia o assunto com um amigo, argumentando que a situação está fora de controle e, que a disputa das pistas entre motoristas e motoqueiros é algo enervante e, perigoso - que o digam, registrei, os retrovisores de carros quebrados, o número absurdo de acidentes de trânsito e, bem assim, o número altíssimo de trabalhadores “encostados” e, mantidos à custa da previdência social (as UTIs dos hospitais públicos de Goiânia e região viraram uma espécie de reserva para emergências relativas a motociclistas acidentados)...

Mas, o meu velho amigo objetou, com sua inteligência privilegiada: “Em tese, concordo com tudo o que diz. Mas, pense se os motoqueiros fossem cumprir à risca as regras de circulação no tráfego, você já pensou como ficaria muito mais difícil circular por Goiânia? Rapaz, o que tem de motoqueiro no trânsito, não tá escrito...”

Parei para pensar, mentalizei aquela chusma de motocicletas em fila indiana, no lado direito da da pista e, concordei que, se eles cumprissem fielmente as regras de trânsito, então talvez fossem os motoristas que iriam partir para a apelação, tomando seu lugar de direito, porque, em parte, diante do número de veículos na cidade (o maior por habitantes, no país) as vias de tráfego da capital estão em boa parte, saturadas.

Nem me senti animado a repisar sobre falta de tempo de reação (um a dois segundos), quando a proximidade entre carros e motocicletas se dá em termos de centímetros, no meio de zigue-zagues e manobras perigosas, e zigue-zagues...

Acidade tem hoje em torno de 1.100.000 habitantes. Imaginem que os seus mentores a tinham planejado inicialmente para...

...50.000 moradores, a médio e longo prazo.

Na época, carro próprio era luxo e, não se imaginava que viesse a se tornar um instrumento de trabalho.

Muita gente, inclusive, ficava espantado com o anel duplo de pistas largas ao redor da Praça Cívica e, as oito pistas de rolamento da Avenida Goiás.

Outros tempos.

Enquanto isso, essa disputa diária e pouco amigável pelo espaço e o direito ir e vir nas vias de tráfego goianienses, uma espécie de loteria, na qual, em vez de ganhar, todos saem perdendo.