Sentado Na Calçada....

Sentado na calçada, semblante tristonho, seu olhar fixo no horizonte, parecia estar à espera de um milagre vindo do céu.

Trajava calça Dins desbotada e uma camiseta furada, um boné encardido sobre a cabeça, sandálias de couro nos pés, descolando ao redor das solas. Aquele pobre menino passou o dia ali sentado, sempre na mesma posição. Já estava tardezinha, o sol se preparava para descer a serra do horizonte, quando aquele pequeno se levantou de onde estava sentado, e caminhou lentamente, atravessou a rua, dirigiu-se até a residência mais próxima, pedindo um copo de água, pois sentia sede e muita fome, estava se sentindo muito enfraquecido.

Aquela cena foi arrepiante, a moradora daquela casa começou a maltratá-lo, dizendo: O que você quer seu moleque encardido vai trabalhar vagabundo, aqui não tem comida pra malandro.

Naquele exato momento eu saia para o trabalho, e me vi diante

daquela situação, aquele menino estava encostado em um poste de luz, soluçava baixinho, comoveu-me profundamente, fui falar com aquela criaturinha, então ele respondeu: sinto sede e muita fome, também se queixava de tontura, pois naquele dia ainda não havia se alimentando.

Mesmo sabendo que iria chegar atrasada para pegar o plantão, voltei em casa, tenho o costume de lavar as latinhas que vem com margarina e guardá-las no armário, peguei uma vasilha daquelas de 500(quinhentos)gr abarrotei de comida, apanhei uma garrafa com água, é levei para o garoto. Quando fui me aproximando, ele veio ao meu encontro,

arrancando a vasilha de comida de minhas mãos, começou a comer com satisfação.

Então lhe desejei boa sorte, e parti para o trabalho, naquela noite nem tive tempo pra pensar no ocorrido, pois quando assumimos algo que nos foi confiado, e como se estivessemos selando do próprio, patrimônio,(exemplo). (Aquele ambiente seria a minha segunda casa, e os pacientes a minha família).

Aquele plantão não foi diferente dos anteriores, foi muito puxado.

O dia já estava rompendo,quando telefone tocou fui atender, era o porteiro do hospital, dizendo que havia acontecido um acidente, pedia pra gente abrir a porta do necrotério, então chamei a minha colega do plantão, e fomos até o necrotério abrir a porta para dar passagem aquelas pessoas que carregavam um corpo envolvido em um lençol, eles diziam que aquele corpo era de um menino, cujo proprietário não sabia que alguém dormia embaixo do seu caminhão, e quando percebeu já não havia mais o que fazer.

E para a minha surpresa, aquele corpo todo deformado, irreconhecível era do menino que clamava por comida no dia anterior, fiquei ali; meditando por alguns minutos.

Não julguem as pessoas pela aparência, sem antes saberem o que vão em suas bagagens, ainda mais se tratando de uma criança.

Flor de minas
Enviado por Flor de minas em 11/10/2009
Reeditado em 13/11/2009
Código do texto: T1860647
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