Uma nova visão

Assim que terminou o seu diagnóstico, o doutor, com um pequeno sorriso no rosto, lhe informou:

- É! Realmente o senhor tem um “probleminha” na sua visão!

- É grave doutor?

- Só tende a piorar, mas posso lhe receitar “isso”!

- Mas doutor, vou ter que usar “isso”?

- Sim e pra sempre, a não ser que queira continuar não “enxergando nada”!

- Não doutor, pode receitar essa “coisa”!

Saiu com “aquilo” meio envergonhado, até com certo receio de lhe verem com o “objeto”. Nos primeiros dias, todos que lhe conheciam estranharam a mudança, podia-se notar bem, algo nele já não lembrava mais a forma como percebia o mundo ao seu redor, agora tinha também a possibilidade de enxergar o que outros já conseguiam ver a muito tempo, deixando-o muito satisfeito. Aquele velho hábito de cerrar um pouco os olhos e tentar aproximar-se ao máximo do que necessitava ver, que fazia constranger-se diante dos outros, agora não era mais preciso. Para a sua surpresa, ao contrário do que imaginava, cada vez mais se aproximavam novos colegas, e apenas aqueles que ele tanto considerava como seus “amigos” não aceitavam essa sua nova atitude de procurar participar mais do mundo que o cercava.

Quem não lhe conhecia poderia jurar que ele sempre foi assim, uma postura de impressionar, olhar no horizonte, ereto, confiante, muito mais questionador, com argumentos sólidos, nem lembrava o rapaz de pensamentos quadrados, de cabeça baixa, sem “conversa” e que gostava de andar sempre em “bando”. Sua mãe que tanto tentou mostrar outro caminho, agora se orgulhava desse novo filho, a própria família incentivava-o a continuar a usar “aquilo”, “deixem que falem”, ouvia de seus familiares. E conforme o tempo avançava maior era o seu progresso e mais conhecimentos absorvia, sempre que possível voltava ao seu doutor para agradecê-lo, aquela “coisa” já fazia parte da sua vestimenta e já não conseguia sair mais de casa sem “ele”.

Agora era ele que indicava o tratamento para os outros, justo ele que nunca aceitou conselhos, fazia questão de acompanhar os seus novos colegas para o doutor, e quando uma pessoa saia do local com “aquilo”, seus olhos brilhavam de felicidade, sabia que naquele instante nascia outro ser, mais participativo, procurando de alguma maneira participar como sujeito histórico na história da humanidade.

E observando a tudo isso, também quis ser mais um a procurar um lugar ao Sol, como ele, depois da consulta e já com o “objeto” incorporado, algo de novo apresentava-se para mim, e como é ótimo essa sensação, uma nova visão sobre o mundo abria-se para me receber.

Não é bonito, nem fácil de acostumar, nem todos gostam de usar, alguns até se afastam de você quando lhe vê com ele, mais tem uma utilidade, um poder, que nem uma arma consegue destruí-lo.

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 12/10/2009
Código do texto: T1862542
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.