.universo paralelo.

Escutava vozes. Estava intacta. Ao passar pela cozinha, o cachorro estremecia querendo atenção e tentava me falar algo. Deitava e tampava as orelhas. Parei. Escutei. Talvez naquela vizinhança não fosse tudo tão calmo como aparentava ser. Um olhar me olhava encorajando-me ao medo. Não tive medo. Afinal, estávamos fazendo a mesma coisa... Pendurando roupas. Mesma coisa? O que estaria passando por traz daquele olhar, que mostrava nem um pouco de remorso quando perdia o controle da realidade? Será que ali não haveria um fluido que deixasse transparecer a beleza da vida ou a esperança que há tempos não se era observada? Parei. Escutei gritos. Voz pura de alguém que desconhecia o caso. Voz de socorro. Voz de alguém que não tinha forças para lutar... Era pequeno demais perante situação. A voz frequenciou numa estação que me causou medo e também indignação. De repente, a voz daquele pequeno menino parou. Talvez seja por cansaço, talvez seja por dor. Silêncio. Silêncio que angustia, mas que – para outros, trazia a paz. O olhar saiu da casa, pegou o carro e saiu. Fitou-me a pondo de almejar o meu fechar de olhos. Afinal, já fechamos os olhos pra tanta coisa... A menina dos meus olhos abriu. O olhar saiu com o carro e, virando a esquina, apareceu o carro do olhar cansado, que esperava acolhimento ao entrar. Entrou. Cem vozes... Sem vozes... Silêncio.

Melissa de Andrade
Enviado por Melissa de Andrade em 13/10/2009
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