O Álcool pôs um ponto final nessa história

Quando Juvenal entrou na igreja para esperar sua amada, cria que aquele laço que já os unia perduraria até que a morte os separasse. Bela noiva, perfeita cerimônia, os amigos presentes, as duas famílias felizes, enfim, tudo contribuía para o novo começo. Após dois anos o primeiro fruto desse amor chegara para complementar o que já era maravilhoso. Desejar mais o quê?- dizia ele. Afinal não se pode abusar da sorte.

O Juvenal passado a euforia da chegada do bebê mudou completamente, é que os choros, as mamadeiras, as fraldas sujas começaram a incomodar, e essa foi a desculpa para a saída com os amigos após o expediente. Enquanto isso a esposa tentava contornar a situação, segurando a barra, calando, aceitando.

No início Juvenal chegava alegre, rindo até com o vento, depois passou a chegar amuado, abatido, chorando feito um bebezão. E a amada amorosamente o alertava: “Juvenal, você precisa de ajuda. Não percebe que está se destruindo, bebendo a noite toda? Desse jeito vai acabar se matando.

Juvenal prometia que essa seria a última, mas no dia seguinte a filme se repetia. A esposa não sabe dizer quando pela primeira vez foi agredida fisicamente, porque com palavras, Juvenal lhe agredia há muito tempo. Primeiro veio o sentimento de culpa. O que foi que eu fiz? Onde foi que eu errei? Depois teve a convicção de que não tinha do que se sentir culpada. Não, não colocaria um peso há mais sobre seus ombros, já lhe bastavam às toneladas que durante esses dez anos havia levado.

Aquele homem que um dia lhe fez juras de amor tornou-se uma besta, um monstro. Ele é que estava procurando a própria marginalização. Havia perdido o emprego por causa da queda na produtividade no trabalho, e os amigos cansados de presenciar tanta destruição, afastaram-se.

Bem que ela tentou cuidar do esposo desempregado que acordava para beber e que bebia para dormir. Após ameaças de morte, num clima de terror e pânico, teve que ‘desaparecer’ para não perder o que restara da sua vida.

Chorou muito quando soube que Juvenal havia sido hospitalizado com queimaduras pelo corpo. Ele adormecera com um cigarro entre os dedos, e se não fosse os vizinhos teria morrido queimado. A sua mãe, mulher idosa, sofrida, pediu, implorou pelo amor que ele tinha por ela, que saísse daquela vida, aceitasse ser internado, passasse por um tratamento, mas Juvenal recusou-se; não precisava de nada. Dona Inácia vendo que ele estava decidido, tirou todos os móveis da casa para evitar uma tragédia maior. Juvenal nem parecia sentir falta de nada, estava entregue à ‘amiga cachaça’.

Já não se lembrava do filho, nem da época da faculdade onde fez muitos amigos, nem do emprego; somente uma coisa não lhe saia da mente: o ‘abandono’ da esposa amada, e por isso repetia pra quem quisesse ouvir: “ Minha amiga, minha esposa, minha fiel companheira é essa aqui.” E apontava para a garrafa de pinga. Essa, ele não largava por nada. E Juvenal encontrou seu fim. Foi encontrado morto, fedendo qual gambá, abraçado à garrafa.

Infelizmente, Juvenal não aprendeu que na vida as escolhas são importantes e que devemos ter consciência de que sempre haverá perdas e ganhos. Por isso, antes de tomarmos uma decisão ou ao fazermos uma escolha devemos ponderar para não virmos a chorar sobre o leite derramado.

A mãe morreu de desgosto, o filho de Juvenal faz terapia, a esposa não conseguiu refazer-se dos traumas... Um alto preço foi pago. Infelizmente, esse quadro é comum nos lares brasileiros e vidas estão sendo destruídas por causa de um líquido que tem a capacidade de matar de forma lenta, mas certeira.

É hora de refazer caminhos. É hora de fazer grandes, porém excelentes escolhas.

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 16/10/2009
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