O Africano
 
O livro “O Africano”, do Nobel de literatura de 2008, narra a história do pai do autor. Um médico de raiz, severo, disciplinado e que viveu grande parte da sua vida na África. O que me atraiu à leitura não foi o fato de o escritor francês ter recebido o prêmio, nem a busca por aventuras em meio à selva ou o gosto pelo exótico. Foram as palavras iniciais, em letras brancas sobre fundo negro, cuja profundidade do sentimento que me tocou, pode ser resumido na frase: “todo ser humano é resultado de pai e mãe”.
 
Fala da incompreensão que no início da vida, e até mesmo por décadas, podemos sentir pelo comportamento de nossos pais, e que só acolhemos com a maturidade e a percepção de que, queiramos ou não, somos formados da mescla do que neles gostamos ou desgostamos. Sua onipotência, severidade, tolerância, disciplina, ira diante o mundo e sua injustiça e, também, do amor disfarçado de tudo isso. 
 
Além da narrativa a partir de 1928, das fotos antigas, há um quê de ficção, que toda memória traz, e que só o bom escritor sabe misturar, sem que ao leitor seja visível. Nas páginas finais, fala que se o seu pai se tornou “O Africano”, por força do destino, sua mãe também pode ser pensada como africana: aquela que lhe beijou e nutriu quando foi concebido. Vale ressaltar que para as comunidades que o autor conheceu na África, a data que se comemora é a da concepção, início da vida. Por tudo isso e muito mais, Jean-Marie Gustave Le Clézio venceu o Nobel.
 
Outro vencedor do prêmio que chamou a atenção do mundo foi o atual presidente norte-americano. Desta feita, pelo que entendi, o prêmio Nobel foi para a categoria dos bem intencionados. O Nobel da paz foi concedido a Barack Obama, não por ter impedido que mais soldados fossem à guerra, ou que mais alimentos em vez de armas fossem distribuídos, mas “pelos esforços para reforçar o papel da diplomacia internacional e a cooperação entre os povos”, como consta na Wikipédia.
 
Correndo o risco de soar como ignorante, o que de fato eu sou, diria que foi como um Oscar pelos efeitos especiais. Que efeitos são esses, ainda não consegui entender. Talvez, por ter nascido numa terra onde se tem a mescla de tantas raças e culturas, ainda fico espantada com o espanto de alguns pelo fato dos norte-americanos terem elegido um presidente negro.

O que me espanta mais ainda é que este homem – é apenas isto o que ele é: um ser humano – é depositário da esperança de tanta gente, como se fosse a última grande chance do mundo dar certo. Tantos ideais frustrados depois de operários poloneses ou brasileiros no poder, das receitas do socialismo e do comunismo, que não geraram a felicidade esperada, etc., talvez se justifique o prêmio milionário para quem se exponha novamente ao risco, não por ter um sonho, como Martin Luther King, mas por ser o depositário do sonho de milhares. Um sonho de Paz.


meriam lazaro
Enviado por meriam lazaro em 18/10/2009
Reeditado em 20/02/2010
Código do texto: T1873380
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