Sobre "Monstros Invisíveis"

As pessoas olham pra mim e dizem:

- Nossa, como ele é tímido. Deve ser um amor de pessoa.

No fundo, elas são movidas por pena. Socialmente odeiam pessoas que não falam. Odeiam a timidez como odeia ratos e suas doenças. No círculo deve haver um jogo de palavras: um fala, passa a vez ao outro que fala, que passa a vez ao outro que fala, que passa vez ao outro que fala, até chegar a mim que não tem nada a acrescentar. Trava a conversa, recomeça o tema, um fala, que passa a vez ao outro que fala, que passa a vez ao outro que fala, que passa a vez ao outro que fala, até chegar a minha vez que diz:

- Não tenho nada a acrescentar (nesta porra de merda de conversa sobre Europa, livros, filmes e Foucault. Na verdade, foda-se a merda de sua vida em outros países, o que leu ou assistiu, foda-se você, você, você, você)

A duas formas de se levar à vida: conscientemente e inconscientemente.

Conscientemente eu sou aparentemente “um amor de pessoa”, inconscientemente eu sou literalmente um maníaco-depressivo que vive num mundo imaginário de psicopatas vingativos com ódio do mundo que procuram o amor da vida deles.

Se alguém estiver lendo isso, não sou eu. Custa muito preservar uma imagem de bom homem que se envolve em trabalhos sociais para populações carentes.

Fico pensando o que um crítico literário psicanalista pensaria dos meus textos. Eu seria uma pessoa que sofreu abusos sexuais na infância ou um gay reprimido que compensa tendo o ódio.

Existem duas pessoas no mundo para Freud: os que sofreram abusos sexuais na infância e os que são gay´s. Eu me pergunto se os psicanalistas omitem que Freud era alcoólatra e fazia seus escritos bêbado.

O que me espera o futuro?

Eu com óculos anos 80 sentado em frente a uma mesa com um computador

Esperava mais das minhas idéias: Cadeia? Hospício? Não, minha consciência morre de medo disso e está soberana.

Portanto, eu atiro para o alto e espero a bala cair de volta na minha cabeça.

Alguns atiram para frente e lêem livros de auto-ajuda amedrontados de dar um passo a frente. Outro atiram para trás e saem correndo fugindo de tudo e de todos. Eu fico parado esperando a bala voltar.

Aqui se faz, aqui se paga. É uma espécie de auto-vingança, tão diferente de auto-destruição. Mas eu mereço isso, pela mentira que sou e pelas mentiras erradas.

Não se pode errar quando se está fingindo. É como um disfarça russo durante a guerra fria.

Se um dia eu escrever um livro, quero fazer sucesso porque me acham lindo, não pelo que escrevo. Não quero ser invisível aos meus escritos. Quero que alguém leia e pense: “Um cara bonito escreve livros bons”.

Quero ficar a frente dos meus livros. Eu, vestido com o melhor tecido italiano de braços cruzados no semi-perfil de olhos cerrados com um semi-sorriso esbanjando charme de intelectualidade. Talvez um pouco de Camus nisso: Eu, no estilo francês com a gola do jaleco levantada para cima num olhar de mistério com cigarro na boca.

Palavras são palavras. Homens são palavras. Mulheres são palavras. Um ser é linguagem.

Mas eu sou tímido e não tenho linguagem. Ou as pessoas são burras e não reconhecem que o silêncio são palavras?

Se me observam criam palavras. Pronto, minha maneira de se comunicar com mundo exterior.

Palahniuk estava certo quando dividiu o mundo entre pessoas visíveis e invisíveis. É como um partido político, ele criou a extrema esquerda: “Monstros Invisíveis”.

Existem no mundo apenas 3,3 milhões de pessoas existentes. O resto nem queira saber. Possuem um “desvio” do septo relevante, olhos não sincronizados na medida da face, boca inadequada para mandíbula, dentes desinformes, massa corporal elevada ao quadrado divido pela altura muito acima do esperado... enfim, feias.

No total são 5999999996,7 bilhões de pessoas que não existem. Por isso a frase: “Que mundo pequeno”. São difíceis de serem notadas para serem lembradas.

Antes as guerras eram feitas para exterminarem pessoas por motivos religiosos, políticos, ideológicos e étnicos. Mas se houver uma guerra agora será por motivos de aparência.

Lá se foram séculos de conteúdos.

Comte tinha razão com o positivismo: iríamos evoluir para um mundo perfeito.

Enquanto uma foto de eu bonito não estiver estampada em revistas e livros, estarei aqui escrevendo para um público que não existe. Continuarei em silêncio para um platéia que não me ouve.

Continuarei invisível.

Plínio Platus
Enviado por Plínio Platus em 18/10/2009
Código do texto: T1873708