PODER E CONVIVÊNCIA

Tenho buscado ficar de fora, para perceber o que acontece com as relações humanas, em convívio com as relações de poderes. Sabemos que o poder libertador, (diakonia), organiza a desordem, favorecendo assim a existência da convivência, (comunhão).

Vivemos em uma crise terrível, que nos faz desconhecer os bons conceitos e desprezar as virtudes. Costumo dizer que o ser humana não anda mais desnorteado, (perda do norte) ou desorientado (perda do oriente). Todavia, o que o define muito bem o ser contemporâneo é a palavra: “desbussolado”. Neste caso, ele não só perdeu o norte e o oriente, mas a bússola!. Desencaminhado ou “desbussolado”, como preferirem, o certo é que o caos se instaura em nosso meio, e com ele as guerras, intrigas, invejas, dores e sofrimentos.

“Não vos façais chamar de mestres, porque um só é vosso Mestre e todos vós sois irmãos” (Mt: 23-8). Jesus, por estas palavras, nos conduz ao exercício da liberdade, da igualdade, da solidariedade e da fraternidade. O contrário da diakonia (poder libertador) é a tirania (poder opressor), desencadeante de todo o desequilíbrio e destruição, nasce de um modelo vertical e arcaico, que identificamos como hierarquia. As pessoas que são inseridas nesta ordem de subordinação, na maioria das vezes são possuídas, corrompidas e despersonalizadas, agarrando-se ao seu título, cargo, ou posição social, confundido o ser com o estar; seja: na política, nas instituições de ensino, nas repartições públicas ou mesmo na Igreja. É crescente o autoritarismo. As conseqüências surgem das mais diferentes atitudes e gestos, de terror e brutalidade, que um ser racional é capaz de fazer ao seu próximo.

As vitimas deste poder, tem sua humanidade agredida, humilhada e marginalizada, porque os tiranos tem medo: de sombras, de lideranças, de consciências criticas e da liberdade. Tudo os apavora, os incomoda. Preferem se esconder por traz desta máscara do que descer a dignidade e sublimidade do servir em função do ser: servo, humano, fraterno e amigo. Estes, nunca fazem da convivência um espaço de experiência entre o humano e o divino, por meio de gestos de comunhão, como: a intersolidariedade, intercomplementariedade e interdiscipularidade.

Quando alguém recorre ao título ou cargo hierárquico que lhe confere o poder para sobrepujar alguém hierarquicamente inferior, esta pessoa dá mostras que o seu título vale mais que a si e a seu próximo, que são em sua essência criaturas divinas. Além de não conseguir ver no outro a figura de um irmão, mas sim de um escravo ou um lacaio (apesar de, muitas vezes, ele se identificar como um cristão), o tirano o subjuga dizendo: eu sou o Mestre, o Senhor. A quem devemos servir? A Deus ou aos homens?

Jesus nos convida, de braços abertos, a nos libertar desta opressão, a sairmos da condição de escravo e assumirmos a condição de servos, de um só Mestre. Sermos servos, é evocar a autoridade da DIAKONIA de Jesus, assim como fez São Francisco, Paulo de Tarso e outros, que se opuseram aos vários sistemas de opressão e destruição, para construir e possibilitar caminhos de ordens e convivências.

Convivência, filologicamente é uma palavra de inclusão, de partilha e de relações, entre o eu e o próximo, num processo de simbiose e sinergia. Mas, é no texto: a “Pedagogia do Oprimido”, de Paulo Freire, onde encontraremos a natureza e a força desta palavra, como também, a contextualização “... todos vós sois irmãos”, Mateus. Convido você a fazer esta leitura e refleti-la. Sermos irmãos é vivermos num “Espírito de família”, (Dom Bosco), em comum unidade, comunhão, onde todos são co-responsáveis, pelas vitórias e derrotas, alegrias e tristeza, perdas e ganhos, destas relações, surgem os elos de afetos, de cuidado, caridade e bondade, atitudes transcendentais, que transpõem os limites da cor, raça, credo, cultura ou idade, e que apontam para um ideal comum, a PAZ.

“Servite Domino in laetitia!” (servir a Deus com alegria!). Mas, para isto é necessário está em Deus, In Theos, e sermos testemunhas desta verdade, com entusiasmo. É imprescindível o exercício da diakonia e não a tirania; a comunhão e não a divisão, para assim renascer a alegria.

Francisco Dias Filho
Enviado por Francisco Dias Filho em 04/07/2006
Código do texto: T187420