ARABESCOS DOURADOS

Quando estava sozinha recolhia-se ao seu quarto que ficava no segundo andar da casa. Como num ritual secreto, fechava a porta com a chave, e abria a porta de suas recordações... Com cuidado, retirava uma pequena e antiga caixa de madeira escondida em seu guarda – roupa. Ao abri-la vizualizava vários objetos, seu insubstituível tesouro. Reencontrava-se com passado que voltava a fazer parte de seu presente.

Os arabescos dourados que decoravam a caixa, desenhavam caminhos em suas mãos, em suas roupas e invadiam sua alma iluminando-a... Escutava seu coração bater forte ao tocar cada um dos objetos queridos; cartas, fotos, um frasco de perfume vazio e algumas conchinhas com as bordas quebradas que de certa forma representavam sua vida, suas perdas...

Enquanto isso, lembrava-se do autor das cartas, de quanto ele dizia que a amava, da felicidade que sentia ao recebê-las. Por uns instantes podia se admirar no espelho, com se tivesse dezoito anos de idade, a força e a certeza do amor correspondido a deixavam ainda mais bela e confiante!

Relia todas às cartas, revia as fotos, voltando ao dia em que ganhou aquele perfume de rosas, no frasco transparente. Pensava que assim poderia fazer seu amor voltar à vida, sentir o calor de seus abraços. Caso soubesse o que estava para acontecer não o deixaria viajar, mas não pode impedí-lo, apenas entender depois de muito tempo, que não mais se encontrariam, ao menos neste mundo...

Por algum tempo... Ainda necessitaria da companhia da caixa, na qual guardava a saudade escondida e suas lágrimas!