Diários dos 31!!!!!

Aos 20 anos pensamos saber tudo, e ainda, fazer tudo! Podemos fumar, beber, comer de tudo sem limites (já que nosso metabolismo ainda é fantástico), nada de contar calorias ou escolher alimentos sem colesterol, com mais fibras... Podemos falar sem pensar e depois corrigir (faz parte de nossa imaturidade todos pensam) e nossa tolerancia é muito maior para aceitar e perdoar os erros alheios. Aos 20, descobri que era dona do mundo!! Boa com números também, embora nunca tivesse entendido porque sempre esquecia as datas de aniversário, algo que não mudou até agora, mas aos 31 descobri que é simplesmente porque nunca sei que dia é hoje.

Aos 20, fazemos todo tipo de amizade, contanto que não nos peçam dinheiro... Aos 31, ficamos exigentes, seletivos, chatos!!! Observamos tudo de boca fechada, escolhemos a conversa, a roupa, o lugar, o jantar, a bebida... nada é por acaso.

Aos 20, queremos casar, pensamos que já estamos velhos demais, que somos adultos, emancipados, cultos! O o casamento se torna o objetivo principal dessa fase e o amor (nosso amor!), durará para sempre!! Queremos filhos, um lar, a felicidade 24 horas por dia, a liberdade dos pais...

Aos 31, lembramos quantos amores passaram pela vida sem nada deixar, aqueles mesmo que na época morríamos por eles, nada! Nem um sentimento, uma lembrança, uma palavra! Zero! Só minhas próprias lágrimas e desespero como se o mundo fora terminar no dia seguinte, greve de fome, insonia, o primeiro porre, a rebeldia instalada... Refiro-me aos 20, embora tudo isso tivera seus primeiros ensaios ao 15, 16...

Roupas pretas, moicanos, maconha, piercing, tatoos, vinho barato, conversa frouxa ou lenga-lenga sobre a política que não se sabe, nessa época tudo se divide entre rebeldes e CDFs, paz e violencia, Trash ou clássico... A moda vem e vai, e com ela as fases, junto com o passar dos anos, vão sendo deixadas para trás. Tendencias, inclinações, visões que extraímos da mídia: exageradas, exacerbadas, a beleza magra refletida nos corpos anorexicos, a nação dos obesos, bipolaridade e esquisofrenia, pílulas e mais pílulas para qualquer tipo de problema! Mas tudo, tudo mesmo se torna a conhecida: Liberdade de expressão! Essa frase tão surrada que ninguém coloca o sentido real no dicionário!

Aos 20, nos confundimos, a liberdade é tão ampla e tão permissiva que ao mesmo tempo que liberta nos torna prisioneiros de um sistema que entendemos sem entender. Permissões e proibições, liberdade e repressão, coragem e covardia, crentes e ateus... Se somos, somos! Se não somos, deixamos de ser!

... Tento compreender a complexidade dos 20! Há tantas escolhas e caminhos! Quando crianças sabemos exatamente quem queremos ser, é muito mais fácil a infância, imaginamos e pronto, Somos! Eu pensava que tinha super-poderes, mas quem algum dia não pensou isso?? Aos 20 temos a resposta pra tudo ainda que não saibamos quase nada, nenhuma pergunta sem resposta, ainda que esta fosse a mais tola! Aos 20 somos incapazes de dizer: Não sei! Se aos 20 eu soubesse que só impressionamos a nós mesmos com essa representação constante de mostrar o que não somos e responder o que não sabemos, com certeza teria perguntado mais e ficado mais vezes com a boca fechada. Aos 31 soube que a pergunta mais tola é aquela que não fazemos.

Aos 20 eu me intitulava: Anti-Cristo, é engraçado pois sigo no movimento ateísta, mas naquela época eu gostava só de chocar, causar impacto, sem me questionar muito, sem uma causa definida ou um objetivo. A mesma menina Anti-Cristo rezava à noite escondida, baixinho, em segredo... Dos 20 aos 30 mudei de opinião muitas vezes, mas realmente já existia dentro de mim uma inclinação para o ateísmo, e não somente ateísmo como também ceticismo de tudo que não encontrava explicação racional, milagres nunca me chamaram atenção, emoção ou credibilidade. Não sou mais a rebelde! Não sou mais a anti-Cristo radical e nem rezo mais escondido! Aprendi a crer na virtude como meu único deus, o deus dos homens, a mesma virtude que nos doutrina a respeito das diferenças entre o bem e o mal, essa virtude que independe de qualquer religião, mas sei, é necessário aprendê-la também. Gostaria de falar mais a respeito, porém perderia o propósito...

Imaginem se pudessemos viver 500 ou 600 anos, como seríamos e quanto deixaríamos de ser! Não temos tempo pra descobrir tudo, certo ou errado, preto ou branco, doutores ou limpadores, hoje um é mais reconhecido, amanhã pode ser o o outro! Maconha já foi proibida, hoje é discutida.Proibido foi o padre de casar, hoje, eles têm filhos! O homem tinha obrigação de sustentar a casa, hoje, muitos se tornaram gigolôs!! Tudo isso já era, ficou no passado, assim como milhares de outros conceitos, preceitos, padrões de uma sociedade em determinada época, hoje somos o que somos, amanhã, uma nova era nos arranca o convencionalismo atual, e então, já pensamos e agimos diferente. Talvez um dia os brancos sejam escravos, as crianças políticas, ninguém mais saiba o que é guerra, os exércitos se transformem em centrais de filósofos, talvez um dia todos sejam de fato iguais e quem sabe, não falte comida no prato de ninguém. Talvez um dia consigamos freiar o consumismo barato, a miséria, a fome, o caos. Talvez um dia, tudo isso faça apenas parte de uma história que temos em livros!!! Talve um dia, tudo isso faça parte dos 20 anos de alguém.

Geyme Lechner Mannes
Enviado por Geyme Lechner Mannes em 22/10/2009
Reeditado em 27/10/2009
Código do texto: T1880515