João papo furado

Toda cidade tem alguém que se destaca em alguma coisa, aqui na cidade havia um homem que era muito bom em contar, (ou será criar?) estórias, que indispensavelmente necessitava da participação dele, bastava se encontrar com alguém que logo vinha à conversa de algum fato ocorrido com a sua pessoa era tanta “mentira” junta que quem ouvia acabava se constrangendo, e quem não lhe conhecia acabava acreditando. Era o homem mais popular do lugar e um dos mais conhecidos na região, e por ter essa mania recebeu o apelido de João Papo furado ou apenas João Pf.

Até o aconselhavam a escrever um livro com as suas estórias, mas ele insistia em dizer que não tinha “talento” para isso, e mesmo quando as pessoas estavam apressadas, sempre ele arrumava um tempo para contar uma, de muitas, das suas mirabolantes aventuras que ocorriam nos lugares mais inusitados, como trabalhava por conta própria, vivia “pulando de galho em galho” e era justamente dessas suas andanças que ele conseguia fertilizar as suas brilhantes ideias. Ai daquele que duvidasse, mesmo que um “tiquinho”, do que ele estava contando, virava a cara e deixava de conversar com você no mesmo instante. Era tão bem quisto na cidade que ninguém queria deixar de ser o seu amigo, não tinha um que não saia com um sorriso no rosto após uma breve conversa com ele, era a diversão do lugar, e por ter tanta capacidade de criar, alguns políticos se manifestaram em lançá-lo como candidato a vereador, pois sabia que existia uma enorme possibilidade de sair vitorioso.

E não deu outra, foi eleito com o maior número de votos já conseguido por uma pessoa, e o que parecia ser uma nova alternativa, acabou sendo uma decepção para todos os moradores, e até para ele mesmo, com ótimos projetos para a cidade, que sempre acabavam arquivados pelos outros vereadores, com dois anos pediu o seu afastamento do cargo e prometeu a si mesmo nunca mais se candidatar a nada. Na câmara, apenas lhe viam como um bom “bobo da corte” que com as suas estórias, conseguia fazer a distração do povo, enquanto o restante aproveitava do dinheiro público.

No dia que anunciaram a sua morte, a cidade inteira parou para reverenciá-lo, foram dois dias de velório, e no seu enterro mais da metade da cidade compareceu, foram decretados três dias de luto e em sua homenagem uma importante avenida recebeu o seu nome “Avenida João Pf”, até hoje não se sabe de outro contador de estórias tão bom quanto ele, os mais velhos, principalmente para aqueles que conviveram com ele, em suas rodas de conversa, matam a saudade reproduzindo “fielmente” cada uma das centenas de casos que o seu João Pf gostava de contar.

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 31/10/2009
Reeditado em 06/11/2009
Código do texto: T1896974
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