Os racionais e a Natureza: uma possível integração?

O envolvimento em prol da defesa dos animais e a consciência da necessidade de preservação do ambiente natural entrou em cena, bem cedo, em minha vida.

Na infância, era bastante comum o convívio familiar com uma infinidade de cães e gatos. Muitos deles resgatados das ruas. Felizmente, sempre, morei em casas, onde uma verdadeira floresta tropical dominava quase todos os espaços vazios do pátio.

Já na adolescência, secundarista, aprendi palavras novas como ecologia, ecossistema, biodiversidade, bioma e tantas outras do vocabulário preservacionista. Por essa época, José Lutzenberger, criava junto com outros pioneiros, a AGAPAN (Associação Gaúcha ao Ambiente Natural) e dava consistência a um sonho de defesa do patrimônio ecológico.

Em paralelo, a Associação Macrobiótica, no velho edifício da Mal. Floriano, trazia como lema uma alimentação livre de agrotóxicos e a consciência da espiritualidade atuando em diversos momentos do cotidiano de cada um de nós. Era um reforço filosófico à conscientização do advento de uma Nova Era.

Na terra do churrasco, em contraponto, multiplicavam-se os restaurantes vegetarianos e os adeptos de uma vida mais alternativa e saudável. Sinais tardios do movimento da contracultura que varrera o mundo, no final da década de sessenta.

Por esta época, começou a surgir, efetivamente, as ONGs em defesa da vida animal. Em Porto Alegre, tendo como modelo o trabalho pioneiro da Sra. Palmira Gobbi, estas entidades se organizavam e traziam como propostas, por exemplo, a castração de espécimes de rua e a denúncia de maus-tratos em relação aos animais urbanos.

Por isso tudo, atualmente, em nível nacional, estadual e municipal, existe uma entidade pública específica para cuidar do Meio-ambiente. Grande progresso se deu, desde os primeiros tempos de ativismo. Lembranças de Carlos Dayrell, empoleirado numa tipuana defronte a UFRGS, impedindo o corte da árvore centenária, de ecologistas escalando a chaminé do Gasômetro, de propostas de ciclovias na pauta da Câmara Municipal, no entanto é preciso avançar mais.

Embora, as leis tentem aumentar o controle do desmatamento, tenham sido criados Centro de Zoonozes nas cidades e combustíveis menos poluentes venham sendo testados, o ambiente natural continua sofrendo flagelos, muitos deles graças à ação humana sobre a Natureza.

O crescimento sustentável não é só retórica: é uma necessidade. Assim como o amor e a piedade em relação aos seres irracionais.

Numa demonstração de que diversas áreas se mobilizam para levar adiante esta palavra de consciência planetária, o escritor e ativista paulistano Ulisses Tavares implementou um projeto poético que busca falar das relações do homem com os animais domésticos.

Para isso, reuniu poetas consagrados e outros nem tanto, numa obra que leva o nome de “Poemas que latem ao coração!”, onde os autores doam seus direitos autorais a ONGs e se divulga a palavra de amor e caridade em prol dos animais.

Deste livro, apresento meu poema Manchas na Alma, que reflete um pouco sobre os animais, perdidos em meio à caótica urbanidade. Apreciem:

Um cão

em repouso

na calçada.

Um homem

em trânsito

pela tarde urbana.

Minha face animal

está ferida de civilidade

e late sem consolo.

Ricardo Mainieri
Enviado por Ricardo Mainieri em 04/11/2009
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