CAZUZA

Recentemente recebi um e-mail onde uma Psicóloga argumentava que o Cazuza é um ídolo errado. Mas por que ídolo errado? Questionei ao ler o título do e-mail. Daí, "logo pensei" - será que o ídolo certo é aquela pessoa que vence um Big Brother? Ou as famosérrimas-alienantes duplas sertanejas?

Opiniões são sempre opiniões, mas a verdade (para mim) é que Cazuza, assim como o “maluco beleza” Raul Seixas e o assumido Renato Russo dentre outros, FORAM GRANDES ARTISTAS, EXÍMIOS COMPOSITORES, pessoas de coragem que enfrentaram os falsos moralismos, as dogmáticas ideologias e gritaram com suas músicas as duras verdades da vida e a grande mentira que é a vida em sociedade.

Daí eu pergunto, qual o problema do vício de Cazuza? O Brasil inteiro fuma um baseado. As grandes celebridades desde Fábio Assunção a alguns jogadores de futebol, todos financiam o tráfico de drogas por serem usuários. Até mesmo nós, pobres mortais, bebemos um vinho para relaxar ou uma “cervejinha” no final de semana. Pessoas do nosso convívio social fumam cigarro que é muito mais prejudicial à saúde que a própria maconha, segundo Fernando Gabeira que tem um livro intitulado “A Maconha”.

Mas, são poucos os que entendem que, comprando cigarro, cerveja e todos os tipos de bebidas alcoólicas estamos também incentivando o consumo e ao mesmo tempo nos servindo de exemplos. Da cerveja, do cigarro a uma droga não lícita é um passo, só depende da necessidade de fuga de cada pessoa, ou então da necessidade de diversão, porque de tanto “pão e circo” oferecido pelos políticos acabamos acreditando que “a vida até parece uma festa”. Eis o início da letra da música “Diversão”, do grupo Titãs.

Eu acredito que as drogas, por um lado, fizeram um bem para Cazuza. Ele tinha visão, pensava, foi um grande artista, um poeta. As letras de suas músicas mostram isso. Egoísta, mal educado, viciado, drogado, atire a primeira pedra em “Maria Madalena” quem não tiver pecados, quem nunca traiu, quem nunca errou, nunca mentiu.

Mas, já que “ficar sóbrio não é a solução” diz a música do Titãs, acredito também que nessa vida ou você se droga, ou você se aliena, ou você se torna um louco de carteirinha, ou então torna-se um eremita feliz bem longe da vida social. Eis o lema epicurista – "vive feliz quem se esconde". E Freud já dizia que as drogas são úteis para podermos suportar as verdades e mentiras da vida. Sartre também deixou escrito que uma dose de mescalina é necessária para suportar a existência. Muita coisa na vida é contingente, mas a mescalina é necessária, assim como o Prosac e os ansiolíticos. Na verdade, acredito que Cazuza fumava para fugir dessa vida vazia, podre, corrupta e hipócrita que é a nossa realidade social.

É uma grande hipocrisia colocar sua cabeça na guilhotina. Mesmo porque já passamos da época em que se cortava cabeças pensantes. Mas, se ele foi um menino mimado a culpa não é somente dele, mas dos seus pais que o criaram assim. Pais que dão de tudo para seus filhos no futuro devem também financiar suas próprias drogas.

O lado negativo de Cazuza é o espelho da nossa sociedade. Ele é fruto dessa época em que para se fazer sucesso basta chutar uma bola ou ter uma "bola" para rebolar, mas Cazuza superou isso, ele pensou. Não sabemos o que, na verdade, o levou a procurar as drogas, mas o fato é que suas músicas são protestos contra a "higt society", os políticos corruptos e a própria falsidade dos seres humanos.

Eu gosto de Cazuza e nem por isso quando o ouço eu fumo um baseado. Eu adoro Renato Russo nem por isso sou homossexual. Eu curto Raul Seixas e nem por isso "rasgo dinheiro". Acredito que isso aconteça pelo simples fato dos meus ídolos não estarem numa caixinha de ilusões chamada televisão, mas na estante da minha biblioteca.

Quem lê, dizia Paulo Freire, sabe ler o mundo, sabe que pode ouvir, interpretar e compreender Cazuza ou qualquer “maluco beleza” sem colocá-los na cruz e sem picar a própria veia.

Silvia Santana
Enviado por Silvia Santana em 04/11/2009
Código do texto: T1904998
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