Cecília Meireles e o haicai

Pretendo ser breve, mas sem deixar lacunas no texto. Nossos maiores expoentes no haicai, a sutil e inteligente arte poética japonesa que ganhou o mundo deve ser apreciada com olhos e corações abertos.

Sem qualquer julgamento de quem entende ou não o haicai, diria que Paulo Leminski, Guilherme de Almeida e Cecília Meireles compreenderam muito bem o seu significado.

Vou fixar-me em Cecília. No seu antológico Escolha o seu sonho, ela aborda o assunto com profundidade e delicadeza, qualidades que a caracterizam.

No seu texto “O ‘divino’ Bachô” nossa autora mostra a sua inteira compreensão do haicai.

Afirma textualmente que o haicai, nas mãos de mestres, torna-se uma preciosidade: “É um engano tomá-lo apenas pelo aspecto superficial: precisa-se penetrar na intimidade da sua significação.”

Sabedora que o haicai e o tanca expressam a mais autêntica forma da expressão poética, que não necessita de título, pontuação ou rima, embora esta quando devidamente feita enriqueça o poema, Cecília dá um exemplo de Bashô, considerado o mestre do haicai.

Um discípulo seu teria escrito

“Uma libélula rubra.

Tirai-lhe as asas:

uma pimenta.”

Mestre Bashô corrigiu o haicai.

“Uma pimenta.

Colocai-lhe asas:

uma libélula rubra.”

Uma diferença grande! Cecília entende como um símbolo de compaixão, como “uma luz que não se apaga, e até se vê melhor – porque vastas e assustadoras são as trevas dos nossos dias.”

Jorge Cortás Sader Filho
Enviado por Jorge Cortás Sader Filho em 05/11/2009
Reeditado em 05/11/2009
Código do texto: T1906427
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