CARA OU COROA?

Não se conformava.
Meio século se aproximava a passos galopantes.
Já não se olhava tanto no espelho para não ser surpreendida por um novo sinal do tempo. 
Luzes sobre sua silhueta, nem pensar.
Providenciara, há muito tempo, luzes indiretas, de preferência de abajures. 
Sua mente e o seu corpo estavam em fase de desarmonia. 
Seria o tempo de convivência?
Não, não era.
Era esse tal de  meio século intrometendo na relação.   
Ai! quem dera a medicina pudesse dar um jeito.
Pensara numa plástica, mas tinha medo de anestesia. 
E também, para que se arriscar se sua aparência não a denunciava tanto assim? Essa pergunta, querendo uma resposta, rondava a sua cabeça, vinte e quatro horas por dia  
Porém, o problema não era tanto a idade do seu físico.
O problema era mesmo o tormento dos cinqüenta anos batendo na sua porta.
- Cinqüenta anos? Meio século! Meu Deus o que é isso?  
Não demorou vir a resposta, numa dessas suas viagens de metrô para o trabalho.
O rapaz olhou para ela, levantou-se e ofereceu o seu lugar.
- Senhora! senta aqui!
Ela olhou para um lado, olhou para o outro e só aí se deu conta que o assunto era com ela.
Ao mesmo tempo, uma moça cumprimentou o rapaz pela gentileza de ceder o lugar.
- Parabéns cara por você ceder o  seu lugar para  a coroa.
Ao ouvir a conversa dos dois, o sangue subiu-lhe a cabeça.
Pensou:
-Isso já é demais. Os cinquenta não vão me impedir de tomar uma providência. O primeiro me chama de senhora, a outra de coroa, com quem eles pensam que estão lidando?
Levantou-se do lugar de supetão e com os olhos cuspindo fogo e invandido a alma da garota, gritou:
- Tá pensando o quê bonequinha, que sou coroa? Pois bem, tô chegando lá sim, mas depois da sua mãe.Mas fique sabendo que um dia eu já fui cara também. E não me responda! Tenho dito!