Sem pressa...

Mais um dia de expediente na repartição pública. Mais um dia de sol escaldante, sem ar-condicionado, contudo, sendo presenteado com uma vista incrível do Lago Maracá.

Borboletas amarelas circundam as flores do jardim, vejo também o "Sô Antônio" com a enxada em punhos, suando em bicas para extirpar as ervas daninhas.

Essa época do ano é especialmente reservada a que os aposentados façam requerimento para isenção do Iptu, graças a uma Lei Municipal, que prevê que os aposentados e pensionistas que sejam proprietários de um único imóvel e que nele residam poderão pleitear a isenção do Imposto Predial depois de passarem por uma avaliação social.

O sol está realmente rachando mamona, e os aposentados chegam aos montes no balcão, suando como o "Sô Antônio", e a cada ano, aumentam os pedidos. E, aqui do meu lado do balcão suando que nem tampa de marmita, faço o que posso para atender a somatória de todos esses anos de vida com bom senso e urbanidade.

Alguns são muito educados, outros nem tanto, contudo, uma senhora já com seus setenta e tantos anos me surpreendeu com suas palavras simples.

Pedi para que ela aguardasse 10 minutos, enquanto resolvia um problema referente a um documento extraviado. Achei que ela fosse se zangar, como muitos que reclamam do calor e de outras coisas... pedi desculpas antecipadamente, porém, ela simplesmente disse:

_Meu filho, quando se chega na minha idade não se tem mais pressa, você passa a querer mais é que o tempo passe bem devagar e que tudo se demore.

Eu apenas sorri e terminei por atendê-la dentro do prazo solicitado, e depois passei a pensar nestas palavras.

Como vivemos correndo. Ficamos sempre ansiosos para que chegue logo o horário do almoço, para que o dia termine logo, para que bata o sinal do intervalo da aula, ou da saída, para que o caixa do banco atenda mais rápido, para que a atendente do médico ou do dentista chame logo por nosso nome. Estamos acelerados, queremos tudo ao mesmo tempo, e tem que ser agora.

Senti um pouco de inveja daquela senhora, com seus filhos criados, sem pressa para fazer nada, e com tempo de sobra para fazer o que quiser: ler, caminhar, saborear a comida...

Não sei se vou conseguir envelhecer com essa paz, afinal, nem dormir durante o dia eu consigo. Vivo correndo, não consigo ficar muito tempo em casa, odeio televisão; em meus 50 minutos de almoço, acabo por comer grande quantidade em pouco espaço de tempo, às vezes quando chega a tarde, nem me lembro o que foi que comi no almoço, às vezes mesmo cansado sinto insônia.

Sinto que corro tanto que estou envelheçendo mais rápido, e tomara que um dia eu consiga desacelerar um pouco, e poder curtir tudo o que passa desapercebidamente em minha frente...

BORGHA
Enviado por BORGHA em 12/11/2009
Código do texto: T1919650
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