Quando bate forte um coração

Tomando posição no bloco-de-saída, o jovem nadador se concentra para realizar sua participação na competição. É hora do revezamento 4 X 100m Medley. Dos quatro nadadores, ele será o terceiro a nadar a prova. Seus colegas de equipe já estavam dentro d’água numa disputa acirrada pelos primeiros lugares, quando percebe que sua equipe pode, ainda, alcançar os adversários - “donos-da-casa” - que brigam pela segunda colocação.

Por uma fração de segundos, a emoção toma lugar na sua mente e, como um filme, toda sua jornada junto aos companheiros de natação, amigos de verdade que convivem com ele há pelo menos dez anos, vem à tona. Foram muitos anos juntos e seus olhos se enchem de lágrimas ao pensar que esta será a última vez que competem juntos. A carreira chegou ao seu final. Mas ele não pode deixar que essa emoção lhe tire a concentração; é sua vez de cair n’água. Dá uma olhadinha para o lado e encontra o olhar do quarto companheiro de equipe que também está emocionado sentindo a mesma sensação, entendendo o que se passa. Em movimentos rápidos, suas mãos se tocam num cumprimento sincero e nessa troca de energias é como se o amigo lhe dissesse: - “vai lá, cara! Puxa forte que a gente consegue!” O jovem pula. Deslizando sobre a água, vai dando suas últimas braçadas como atleta-competidor. Faz o percurso da piscina com toda garra e competência e completa a sua tarefa. O próximo a nadar pula logo em seguida e a disputa continua. Os amigos, gritando e torcendo do lado de fora da piscina estimulam o amigo que vai fechar a prova. Braços e pernas batem fortes e cadenciados na água que espirra como um fervedouro. O nadador bate, então, sua mão na placa eletrônica que aciona a sua colocação e o tempo da prova. Os olhares se voltam para o placar eletrônico e logo vêem que o segundo lugar é deles. Conseguiram. A medalha de prata foi conquistada.

Fora da piscina, a euforia toma conta da turma toda e os quatro amigos já não conseguem segurar a emoção. A sintonia existente entre eles é muito grande e o abraço é consequência natural. Formando um círculo, seus braços se entrelaçam e o choro, inevitável, se faz ouvir. Foi a última vez que competiram juntos. O restante da turma, outros técnicos e outras equipes se aproximam solidários, e a emoção toma conta de todos.

O alto-falante anuncia a classificação dos competidores e convoca as equipes para a entrega dos troféus e das medalhas. Lá vão eles para a última subida no podium. As fotos registram, para sempre, esses belos momentos.

Foi cumprida com beleza, com garra, com ética, com competência e, principalmente, com o companheirismo, a jornada proposta pelos corações que amam a natação!

Daqui pra frente, como ex-atleta, o futuro do jovem estará focado na conclusão do curso e no início de uma nova caminhada, agora em busca do sucesso na conquista da carreira profissional do Educador Físico.

Que Deus o ilumine e o proteja!

N.A.: Esse fato ocorreu no último final de semana, durante o Campeonato Mineiro de Natação, realizado nas dependências do "Praia Clube" da cidade mineira de Uberlândia. O jovem ao qual me refiro é meu filho caçula que se encontra com 25 anos e, infelizmente, não pode se dar ao luxo de continuar no esporte de maneira competitiva, devido à necessidade de maior dedicação ao último período do curso universitário. Esse episódio significou tanto pra ele que enquanto me relatava o acontecido, foram necessárias algumas interrupções para respirar fundo e fazer cessar o choro que brotava da emoção.

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