Uma Grande Amiga

É uma história muito recente de alguém que surge com uma brisa e se vai como uma tormenta.

Ano de 2008, Professor entra na sala de aula de uma turma pequena. Pequena em número de alunos, mas enorme em sua diversidade/ particularidades e questionamentos. Isso para um Professor não só é um desafio como um belo convite ao crescimento profissional.

Dentro de tamanha diversidade e por mais que você se afeiçoe por seus alunos, sempre se apresenta um ou outro cujas particularidades desperta a atenção e o apego do Professor.

Nessa pequena/grande turma tinha uma jovem que chamava a atenção por seu jeito diferente e seu comportamento também fora dos padrões dentro de sala de aula. Matava aulas, dormia tão pesado durante algumas aulas que ia que, por mais alto que se falasse não abalava seu sono e seu descanso.

- Um absurdo! Poderia dizer um Professor...

- Falta de respeito! Diria outro...

Mas não, com ela era diferente, pois conhecia-se de perto a enorme luta que travava para poder estar ali, mesmo que ausente de espírito, pois este vagava talvez em sonhos lindos de alguém que nunca almejou nada mais do que o necessário para uma vida segura e tranqüila, mas cuja realidade era completa e totalmente oposta a seus sonhos, mas presente de corpo para não ser reprovada por falta.

Num país como o nosso, cuja hipocrisia é uma das marcas registradas de surpreendente evidência, vivia essa jovem, negra, de opção sexual diferente do que se conhece como natural (por quê?), muito simples e acima de tudo, verdadeira, transparente e muito, mas muito correta, teve que travar diversas lutas em sua curta vida.

Lutadora, como já dito, não somente porque varava madrugadas trabalhando como garçonete para pagar seus estudos, pois cursava Direito em uma Faculdade de credibilidade como a Unic, unidade de Primavera do Leste, mas lutava no meio social, quer seja em âmbito municipal, regional e até mesmo estadual, pelos direitos dos homossexuais, ou mais modernamente, os homoafetivos de ambos os sexos.

Sim, uma guerreira de família humilde e honrada, cujos pais tinham o maior orgulho dessa grande filha caçula, pois diante de todos os percalços, em aproximadamente mais um ano e um mês, concluiria o curso de Direito e seria “a dotôra que ia ajudá muita gente”, dizia sua mãezinha.

Perfeita, não, nunca! Em tempo algum desejou isso, mesmo porque era consciente de suas grandes limitações. Mas alguém que fazia valer à pena falar mais baixo durante as aulas para não perturbar seu sono, alguém que fazia valer a pena a função de Educador na sua totalidade, que reconhece os limites, respeita-os e se coloca à disposição daqueles que precisam.

Essa era minha Amiga... Uma grande e eterna Amiga, que nas palavras do meu grande e tão querido Mestre, Rubem Alves, “ficou encantada.”

Sim ficou encantada e de lá de cima continuará ajudando àqueles que lutam pela verdade, pelo respeito às individualidades, por aqueles que reconhecem assume seus defeitos sem qualquer tipo de vergonha e que reconhecem seus valores sem fazer alardes, aqueles que têm a coragem de serem diferentes e daqueles que, mesmo não aceitando a diversidade humana, merece também ser respeitado.

Essa é minha Amiga... Que deu glórias à função do Educador, que deu vitórias às lutas dos discriminados, que serviu de exemplo de determinação, garra, coragem e simplicidade àqueles que buscam o sucesso, que serviu de exemplo de um lindo e gigantesco coração.

Até qualquer hora, Amiga... Enquanto isso continue nos ajudando e dando-nos coragem daí de cima, onde está e onde muitos de nós, talvez, não conseguiremos alcançar quando nossa vez chegar.

Um beijo carinhoso e saudoso de um grande e eterno fã.