Beijos aos pedaços

E parecia que a música conduzia os olhares, fixos um no outro, enquanto as bocas se tocavam levemente, provocando a paixão aprisionada que vinha a tona para se libertar efusivamente.

E parecia que tudo havia sido coreografado pela perfeição dos movimentos de carinho no rosto, nos cabelos, pelo corpo, sentindo um pouquinho do gosto... E parecia sonho desde o primeiro abraço que deveria ser somente um abraço e se tornou um amasso, a paixão envolvendo os braços, se perdendo entre beijos aos pedaços.

E não era sonho, era a paixão revelada com o mais natural exemplo do amor, uma série de beijos apaixonados e inconseqüentes e deliciosos. E faltava ar, faltavam e sobravam palavras que nem sequer precisavam ser pronunciadas. E só existia o silêncio e a verdade mais absoluta da vida, a verdade que impera no olhar apaixonado...

E nada precisava fazer sentido, não havia necessidade de se declarar, não havia motivos para inventar, eram só eles e seus beijos aos pedaços naquela noite. E a noite não acabava mesmo depois da despedida, ela seguia repetidamente no pensamento, perfeita, intacta como um diamante recém descoberto. E a noite não teria mais fim, e o amor não teria mais explicação nenhuma que fosse melhor que este texto.

E nenhuma exigência seria feita e a perfeição já não existia mais e a vida já não era mais uma passagem, ela passava a ter o seu mais natural significado. E viver já não seria mais um martírio pela certeza de que a felicidade está nos pequenos beijos aos pedaços, nos fragmentos de felicidade que o destino não coloca na vida das pessoas, mas sim naquilo que as pessoas fazem para serem felizes.