Flores na lixeira

Todas as manhãs eu coloco o lixo na cesta que fica na calçada de casa. As 7:30 o lixeiro passa. Ontem quando fui colocar o saco de lixo encontrei um ramalhete de flores amarelas na cesta de lixo, fiquei encantada com a beleza das flores e por alguns instantes flutuei com seu perfume. Depois, passado o “susto” olhei para os lados e não vi ninguém, a rua estava deserta, só a janela do sobrado do outro lado da rua estava aberta. Peguei as flores, cheirei seu perfume mais uma vez e levei pra dentro de casa.

No outro dia encontrei na cesta um ramalhete de flores vermelhas, estava molhada de orvalho, como se tivesse acabado de ser colhido. Novamente olhei ao redor e nada vi. Fui trabalhar, dei aulas até mais tarde, aula extra para aluno novo. Quando cheguei fiz o que sempre faço, fui para o jardim molhar as plantas. Não costumo ligar o Notebook em casa, mas dessa vez fiz um café e fui checar os e-mails.

Encontrei um e-mail com o seguinte endereço de remetente: flores.lixeira@hotmail.com e fiquei curiosa. Era muita coincidência, dizia o seguinte: Desculpe o “susto” que te causei deixando flores na sua lixeira, mas era o único jeito que consegui inventar pra agradecer por tudo, fiquei sem coragem de entregar pessoalmente por medo de causar algum “constrangimento”. Agradeço a atenção e todo conhecimento que adquiri nesses dias com você. Vou explicar melhor: todas as noites de terça a quinta a vejo chegando do trabalho, e um dia fiquei na janela até mais tarde e acompanhei sua rotina, você conversa com as plantas depois de tomar banho e vestir aquele vestido largo, solto, sem mostrar forma alguma. Depois senta confortavelmente na varanda e sempre lê algumas páginas de um livro, sua cadelinha pula no seu colo, você se espreguiça, fica com o olhar perdido e se entrega a leitura novamente. Acompanhei tudo da janela e aprendi com você o quanto a simplicidade é bela. O quanto ser feliz é incrivelmente fácil, o quanto é divertido e prazeroso conversar com as plantas. Estou partindo hoje, fiquei hospedado no sobrado em frente sua casa por 2 semanas, fui seu aluno e seu vizinho, aprendi a lidar com o “PC” o suficiente para criar esse endereço, escrever esse e-mail e fazer o que eu precisava de mais urgente no meu trabalho. Ainda há coisas “boas” para se ver de uma simples janela.

PS: A lixeira sentiu falta das flores e eu fiquei feliz por saber que “sou”.

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 28/11/2009
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