Greve!

Lembrei de tempos atrás quando eu ainda freqüentava o Sindicato dos Bancários e era ativista mesmo. Me apaixonei por um “camarada” e ficava horas sentada ouvindo seu discurso inflamado convocando os “companheiros” para a greve geral.

Nossa! Era muito bom, aquele idealismo gritante, pulsando, ardendo em cada poro de meu corpo, a vontade de ver a igualdade reinar, a reforma agrária acontecer e ainda por cima ter um herói vivo pertinho de mim. Como não se apaixonar, seu conhecimento teórico era incrível, sua coragem inenarrável, sua dedicação ao ”partido” era total. Assim como os meus vi muitos olhos brilhando ao seu redor, assim como eu vi muitas meninas suspirando enquanto ele falava.

Numa noite de agitação política, pregávamos cartazes até tarde na rua quando a polícia chegou, tivemos que sair correndo e nos escondemos numa ruela pertinho da Praça da República, a polícia se foi, nesse instante ouvimos a voz do Chico cantando “Sem Fantasia”, seguimos juntos até o lugar, era um barzinho bem pequenino, com algumas pessoas já com cara de “fim de festa”. Resolvemos ficar até a música acabar, bebemos alguma coisa, comemos uma batata frita e eu estava como que encantada. Aquele lugar para mim era o melhor lugar do mundo, “ele” estava lá comigo, ouvindo Chico. O que mais eu poderia querer?

Sempre muito responsável, ele lembrou que no outro dia estaríamos em greve e teríamos que acordar cedo para estarmos na porta do banco entregando panfletos e tentando fazer com que os companheiros aderissem em maior número possível.

A vida fez com que seguíssemos caminhos diferentes, mas nunca vou esquecer aquela noite. E o Chico sempre faz música pra lembrar que aquele momento existiu, não é Chico?

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 28/11/2009
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