QUANDO O AMOR VIRA SAUDADE...

Tem coisa pior do que perceber que o seu amor está virando saudade? Acredito que, quando isso acontece, o primeiro sintoma a ser apresentado à nossa nostalgia é a solidão.

E não tem jeito: de repente, o amor vai embora. Dana-se mundo afora e não quer mais voltar. Você fica sem saber por que ele foi ou, simplesmente, não quer entender porque ele o deixou. No fundo você sabe, porém não quer admitir que, muitas vezes, ele foi embora devido a sua intransigência, a sua falta de compreensão, a sua pouca habilidade em lidar com as coisas do coração e, principalmente, por não aceitar que ele transitasse livremente por seus sentimentos.

Aí já viu: chega a solidão. Essa, sem querer, dói. Machuca. Lembrar-se do amor que foi embora, tendo como palco a janela do seu quarto, o brilho dos refletores de uma noite enluarada e, como plateia, a companhia de uma brisa e o balançar das cortinas é, sem sombra de dúvidas, deixar-se esperar pelo término do último ato e, neste apagar das luzes, entristecer-se, sem coragem para declamar um poema e apenas suspirar de saudade.

Ah! A saudade! Essa vem logo após a solidão. Imagine a cena: noite convidativa num final de semana, um vinho na temperatura correta, porém ninguém para dividir o momento. Bate ou não bate uma saudade? E saudade só se tem, num momento como este, se a saudade for do amor. Assim, a cada suspiro, a cada pedido de desculpas e a cada mensagem telepática de “volte”, a lembrança de momentos felizes se faz presente na realidade e convida, a quem sofre de saudade, a apenas emocionar-se com o vazio do coração.

É doloroso, portanto. O padecer é tanto que se imagina o bater na porta e, automaticamente, vai atendê-la para, ao abri-la, vislumbrar, como num passe de mágica, a silhueta de quem nos mata de saudade. No entanto, é apenas a vontade de reviver aquilo que já foi presente, que nos preencheu por longos períodos de nossas vidas e que nos leva a devanear, tornando uma ilusão ótica ou de fundo sensitivo, o principal lenitivo para justificar a sua ausência.

Entretanto, mesmo que a saudade seja de tristeza – e ela é em sua maioria –, mesmo assim, em algum momento ela já foi de alegria, de felicidade. E, relembrar momentos felizes, também faz parte da saudade. E, no amor, o que não faltam são momentos felizes. É simples lembrá-los: o dia que ele entrou em sua vida, aquele jantar à luz de velas, o primeiro aniversário a dois, a primeira entrega, as inúmeras viagens e os segredos partilhados. Tudo isso quando lembrado, especialmente em momentos onde a solidão e a saudade estão presentes, é que se percebe o quanto faz falta não proporcionar zelo ao amor.

Contudo, nem todo amor que vira saudade vira porque foi maltratado, manipulado, ou deixado de ser regado em sua essência. Não. Existe, também, a saudade do amor poético que é o amor que encanta pelos seus versos, se eterniza pelas suas rimas e que abastece de poesias todos aqueles que encontram na natureza o sentido para a ilusão do seu pensar. Nesses casos, a saudade do amor é antídoto para as tristezas, para a solidão.

Agora, a pior das saudades causadas pelo amor é quando este amor se torna saudade mesmo estando presente, fisicamente, no dia-a-dia de quem ele alimentou. Nesta saudade, a dor se faz presente porque o que se vê não é mais o amor arraigado, mas algo diferente que pode, muito bem, ser cognominado de apatia, descaso ou insatisfação. Isso acontece quando deixamos o amor cair na rotina e não nos preocupamos em regá-lo com o adubo do desejo e a água da paixão.

E, por fim, existe a saudade do amor que se foi prometendo voltar um dia. Este amor, muitas vezes, se vê impedido de retornar e continuar amando a quem ele escolheu para ser o seu parceiro no amor. Nesses casos, as juras sacramentadas, a completa integração entre alma e matéria não são suficientes para impedirem a ordem natural dos desígnios de Deus e, portanto, quem espera continua a viver somente se alimentando da esperança e da saudade eterna.




 
Obs. Imagem da internet

Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 29/11/2009
Reeditado em 07/12/2011
Código do texto: T1950637
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