Minha carteira de couro preta

Tenho uma carteira de couro preta que costumo abrir com frequência. Abrir a carteira tem sido um fato corriqueiro ao qual não dou muita atenção. Mas hoje, ao abri-la, dei-me conta de algo que até então tinha passado despercebido: notei que estava cheia de documentos_ identidade, cpf, carteira de estudante, motorista, cartão de crédito...

Não faz muito tempo eu podia andar por aí sem lenço, sem documento. Hoje já não saio de casa sem minha carteira de couro preta. Sem ela não sou ninguém, sinto-me nua.

Em pensar que já houve um tempo em que ficava cogitando o que poderia levar comigo na carteirinha cor de rosa, inventando coisas para ocupar cada espacinho... Me fazia bem vê-la cheia, quanto mais cheia melhor. Carteira cheia era coisa de gente importante!

Hoje, tendo a carteira cheia por necessidade, estou longe de sentir-me importante, bem pelo contrário... Sinto minha existência reduzida a meros pedaços de papel, o meu ser transformado em números, minha identidade classificada à base de dados técnicos... É pelos números que sou reconhecida, é pelos números, e só pelos números, que posso fazer parte deste mundo.

Ah, que saudade sinto agora daquela carteirinha cor de rosa, cheia de figurinhas e cartinhas, onde guardava algumas moedinhas (fundamental para comprar doces) e ostentava com orgulho minha carteirinha de sócia do clube da abelhinha!