Comparando -

 
Série Viajando por ali e aqui – (17)
 
Minha rua parece uma praça de guerra. A Copasa, companhia de saneamento que cuida dos serviços de água e esgoto de quase toda Minas Gerais está por aqui. Pelo jeito vai passar o mês. Limpar a casa para as festas de Fim de Ano será totalmente impossível. É um serviço que vai e volta, ziguezagueando.  Primeiro foi a poeira cobrindo tudo. Agora é o barro. Noite dessas, chegando de carona em casa, na escuridão da rua, meti um dos pés em um buraco. Sapato, meia e pé, com respingos em toda roupa, tudo puro lama. Não gosto de comparações principalmente quando são negativas para o meu lado. Mas não tenho outro jeito.

Em Setembro, estive na Espanha. Pude observar pelas duas maiores cidades por onde passei, Madri e Barcelona, que o país se transformara em um canteiro de obras. Para vencer o desemprego as duas cidades estão investindo em obras públicas. Pois lá, tudo é feito para que as pessoas que transitam pelas ruas, a pé ou de carro, sofram o menos possível. E não são apenas as obras nas ruas que tomam esse cuidado. Inúmeros prédios estão sendo reformados, andaimes instalados, mas em nenhum momento alguém tem que sair da calçada para a rua a fim de se desviar de entulhos e andaimes. Tudo limpo e livre.

Outra comparação se faz necessário e mais uma vez a Espanha sai ganhando – é na questão dos pivetes. Em Belo Horizonte, o último que encarei estava com um canivete na barriga de minha irmã. Mas na Europa, garantiram, roubam, mas nem ferem nem matam. E assim foi em Barcelona um dos membros do grupo foi  assaltado duas vezes e em nenhuma delas houve arma e mais, o roubado acabou roubando e não teve prejuízo nenhum a não ser porque sua mulher encasquetou de deixar o grupo e voltaram para o Brasil. Deve ter sido um prejuizão, mas não foi causado pelos ladrões espanhóis, que nos fizeram foi rir um bocado. Na primeira vez já estávamos mais a frente quando ouvimos o grito de Fernando “Madalena, fui roubado!”.  A princípio pensamos que fosse brincadeira, onde já se viu um homem daquele tamanho pedir socorro a guia? Todos paramos e presenciamos a turma que vinha logo atrás cercando duas mocinhas – as ladras – impedindo que elas fugissem. E aí foi o bate boca, cada um em sua língua: “Vocês me roubaram”, “Nós não roubamos” até alguém ameaçar chamar a polícia e a carteira aparecer misteriosamente no chão e o caminho foi liberado paras gatunas que se foram sem olhar para trás. E não é que Fernando colocou a carteira no mesmo lugar de onde tinha sido roubada, para desespero de sua mulher! O bolso trazeiro dessas calças de antigamente, fechado por um botão! O segundo furto eu não vi, mas foi ainda mais divertido. Pois um larápio roubou dele a mesma carteira e espertissimamente ele roubou a carteira do ladrão. E aí foi aquele embate, cada um dizendo ao outro, devolve a minha carteira. Ai, ponto para o brasileiro, que recebeu a sua de volta primeiro. Não posso culpar a mulher dele por desistir da viagem.

Outra coisa que lá ganha cabeças a frente são as rodovias embora eu não possa queixar porque a Fernão Dias comparando por aqui mesmo está uma maravilha, apesar das curvas, das subidas e descidas. Bem, diriam eles, os espanhóis: é porque está nas mãos de uma empresa espanhola. Pode ser que sim, mas o que é perfeito lá é que praticamente não tem curvas, subidas ou descidas. É tudo plano, não se sobe uma montanha, atravessa-se  túneis. E isso não é só na Espanha. É em toda parte da Europa que conheci. Poupa-se tempo e não nos cansamos, embora tenhamos feito uma viagem rodoviária que foi de Lisboa a Paris. São tantos túneis que, no caminho para Pisa contamos cento e sessenta túneis. Ou mais, não me lembro bem. E há um túnel tão longo, mas tão longo que tem até uma emissora de rádio própria, para orientar os motoristas.

Acho que vou parar as comparações por aqui, afinal essa  é uma atitude que não vale a pena, nem para o bem nem para o mal. Além do mais eu saí da minha rua passando para a Espanha em um tortuoso caminho, apesar de saber que todos os caminhos levam é a Roma.