FILTRO DOS SONHOS TERRÍVEIS

Quero te colocar num caldeirão e te ferver. Quero te furar, até teu

sangue escorrer pelas minhas mãos. Quero te deixar em cinzas. Tudo que

há de ruim quero pra você como está em mim, nunca vai estar

completamente no fundo e agora queria que estivesse. Não desejo o mal

pra você, desejo o inferno de corpos que perambulam a sua volta como

urubus. Você faz parte disso tudo, desses jogos sem regras, desse

contexto inédito pra mim. Eu quero te atirar de um precipício, eu

queria te ferir de alguma forma para fazer te fazer sentir o que fez.

Nunca sentiu a rejeição como ela é. Nunca sentiu o amor como é. Nunca

sentiu o ódio como é. Eu não estou apagando mais, você que está! Quem

deu o direito de ter direitos?!? Quem te fez senhor de minhas

palavras?!? Você descarta uma conversa como quem não quer a casca de

um pão, você é tão insensível como meus monstros. Você se transformou

em uma figura grande, de olhos vermelhos, sua pele tem escamas, tem

chifres, rabo, tem patas de espinhos, suas mãos têm dez dedos de

orgulho. Tudo faz de você algo que rasteja, algo que mata qualquer

coisa boa em mim. E porque ainda quero te salvar? Porque gosto de

pessoas como você? Porque te ofereço ajuda, amor, compreensão? Porque

continuo insistindo? Eu quero te matar com golpes para que morra

lentamente e veja tudo que não fez nessa vida vazia. Você nem sabe o

que faz aqui e é tão simples de descobrir. O que é pior: no outro dia

você está melhor! Melhor de que? Você é como um réptil que rasteja

nessa neblina de hoje. É como peixe morto por falta de oxigênio, é

como ave sem asas, é como poeta falso, juiz sem réu. Você nem sabe

onde está! Onde está seu eu! É uma batalha ganha sem troféu. Eu sou

chata, sensível, uma merda. Você pode achar que não sirvo pra nada,

que não sinto como você, que não sou como você. Tem razão e sabe que

não adiante truque de sons. Você é um idiota de nariz vermelho, minha

assombração diária, meu sofrimento querido. Eu sentei pra te ajudar,

eu escutei trovões pra te ajudar, eu entrei na escuridão pra te

ajudar. E hoje? Um ausente presente. Você acaba de criar em mim jogos

mortais, poesia transversal, adivinhações futuras. Quero que caia de

bicicleta, de uma escada, de um amor. Quero que você caia. Derrame

suor, vai lá!!! Você consegue matar essa flor, pois prefere as de

plástico mesmo. Encena como se tudo fosse de verdade. Até sua vontade

de entrar na morte é mentira, até sua vontade é mentira. Tenho

compaixão por ti, tenho premunições pra ti. Você vai vagar no inferno

de Dante eternamente onde fui passear num sonho. Vai estar entre almas

se afogando em sangue bandido, entre corpos banidos. Você não sabe

nada do nada, você não entende o além. Você é como cadáver que

perambula entre um teclado. Você, você, você que nem é você... Não

posso te definir mais em coisas podres porque elas existem e você não.

Você é apenas um ausente presente sem respostas...

O que você vai levar hoje? O que você vai levar daqui a pouco? Você

não é tudo, tudo de todos, tudo de saco cheio. Você não conhece a

simplicidade do meu caldeirão, da minha fervura.

Você serve para eu sentar e escrever as coisas ruins, definhadas,

nojentas. Você serve como espelho de muitos. Você pensa que estou

errada? Que sou louca? Sou errada e louca e grito de horror, pavor,

medo, alegria, felicidade. Grito para os extremos. Eu te fiz como Deus

e Diabo. Eu te mandei para o céu e para o inferno. Você é, você é,

você é... tudo que deve ser pra uma bonequinha de luxo. As aparências

te completam, a falsidade te alegra, a riqueza te comove! Nunca

imaginou que eu pudesse chegar a tanto! Eu quero ter mostrar que você

vive num lixo hipócrita rodeado de mais lixo hipócrita, e não quero

fazer parte disso. Momentos de lucidez não passam de instantes comigo.

Momentos de lucidez te fazem um bêbado vendo as verdades de duas

formas, uma na madrugada de um susto, outra no dia representante...

Você precisaria de uma clínica de choques, choques de verdades, de

respeito, de amor pelo seu semelhante. E mesmo assim, não sei se

estaria curado. Ficaria com seqüela de cifras, vodka, carros, roupas,

seqüelas de poder e manipulação. Você pode rir, mas sei que você está

ai e sabe que eu sei. Eu te avisei.

FLORA DO AR
Enviado por FLORA DO AR em 20/07/2006
Código do texto: T198172