Representação

Ô pessoas, pessoas ridículas.

Que aqui estão e aqui nos acompanham

Idiotas anônimos

Infantis de carne e osso

Em um processo lento o tempo perpassa. Eu aqui, nesta medíocre vida de 24 anos. Olhando bobeiras, comendo mulheres anônimas, ganhando dinheiro sem motivo.

Depois que eu perdi minha falsa ilusão do amor, minha vida se tornou mais “por ai vai!”... mais... “beleza ?!”... mais... “calma, calma... to aqui pra isso”.... talvez... “ham?”.

Lá pelos meus mares, meu navio se foi. Não tem leste, oeste, norte nem sul.

Tornou-se um circo e eu sou o palhaço. Ficou mais fácil, juro!

Obrigado!

Antes eu era sensível, cuidadoso e cauteloso. Até escrevia bem.

Hoje eu sou membro do clube das pessoas que falam sozinhas. Eu conto meu dia para o nada da cozinha, da sala, do quarto, do banheiro. Quando não posso falar, eu penso.

Alguém pode pensar que isso é algo negativo. Algo muito ruim. Uma decadência. Ah, mas não! Eu me divirto. Eu adoro essa solidão meia-boca. Essa solidão alegre.

Mais do que a solidão. Eu adoro essa irresponsabilidade por tudo. Adoro o amor optativo: aquele sem compromisso, sem hora marcada, sem cobrança.

Eu gosto da minha vida assim. Falando sozinho, solteiro e suave.

Eu não estou no topo. Longe disso.

Só estou num processo.

A expressão é representação. A face, os gestos, o ranger dos dentes. Tudo representação.

Meu olho enxerga além do que é preciso. Como um raio-x capto com precisão o elemento central de cada representação. Pode ter certeza que isso não é sadio.

O mundo fica estranho se você não vê mais o lado falso da vida. Depois de um tempo, eu observei o meu lado falso da vida. O lado que me transforma num idiota ao mesmo tempo em que fala por si que é minha personalidade.

Vem o medo, arrependimento, a culpa e, acima de tudo, vergonha. Não só aquela vergonha infantil, mas a vergonha infantil de ter falado algo ou feito algo que é prenuncio de quanto sou idiota.

Eu sou idiota porque não sou ator. Para um ator nada disso seria vergonhoso ou um erro. Os atores possuem um prisma nada complicado nesse mundo. A falsidade de tudo é o alimento de suas vidas. Eles percebem, compreendem e agem.

São atores, vivem de acordo com o mundo.

Sob o efeito da droga fico meio descontente com tudo. Como se revelasse uma verdade a cada momento.

Fico puto da vida. Não era para abrir novas perspectivas. Não era para adicionar novas idéias. Não era para revelar algo que não tinha visto ou pensado. Era só para me fazer sentir bem, nada além disso.

No entanto, as coisas mudaram. Não sei se me sinto triste ou com medo, mas sei que a sensação é diferente e estranha.

Sem depressão e sem ódio, movido por outros fatores. Algo novo, talvez inevitável.

Selo minha vida dissipando o que ocorreu e evitando o que virá. Vivo fumando meus cigarros. Fora do mundo. No meu refúgio. Na ilusão.

Sem falsas promessas.

Sem criar outro mundo.

Sem ser o que não sou.

Plínio Platus
Enviado por Plínio Platus em 20/12/2009
Reeditado em 26/12/2009
Código do texto: T1987034