A MULHER PERFEITA

Após muitos anos de vida em comum, Atílio sentiu que o seu casamento estava abalado; Rosilda já não era a mesma. As desculpas que ela dizia para não compartilhar o leito conjugal juntamente com ele, já não o convenciam; uma hora era uma dor de cabeça terrível, outra hora era coluna que doía e assim por diante. Carinho então o pobre rapaz desconhecia, Rosilda que lhe jurara amor eterno, havia se esquecido de tal promessa. Não lhe dava mais atenção; em nada lembrava a fogosa garota de outrora.

Atílio que não era nenhum idiota, a tudo observava e sentia-se repugnado. Pela manhã postou de frente ao espelho e em atitude de autocrítica, reconheceu que estava avacalhado pela idade, a barriga petulante empurrava os botões da camisa, deixando uma pequena abertura, que providencialmente servia de entrada de ar, os cabelos estavam ralos e grisalhos; isso tudo sem contar as rugas que aportaram no seu rosto sem dizer de onde vieram. Heroicamente o rapaz bastante chateado resistiu à tamanha afronta do tempo, pensou na esposa e refletiu; realmente não havia na sua pessoa mais nenhum atrativo. A Rosilda tinha toda razão em desprezá-lo. Sentiu-se um caco. Estava corroído pelo tempo. Se ao menos ela lhe desse atenção, como nos bons tempos, essa constatação da velhice seria menos dolorosa; no mínimo suportável. Amor por pena ele também não queria, seria muita humilhação para um homem.

De volta do trabalho Atílio passou no bar onde sempre se reunia com alguns amigos, ali ele era considerado e assim que chegou foi saudado com, alegria. Depois de beber alguns copos de cerveja, ele confidenciou ao amigo Gilberto o drama que estava vivendo. O amigo com aquele ar sisudo de médico de almas e consultor de alcova, após ouvir o breve relato do melodrama apresentou de imediato a receita para a cura:

- Atílio, velho amigo, isso não pode continuar. Mulher nenhuma pode tratar um homem correto como você dessa forma. Você tem que dar a volta por cima. Tem alguma menina em vista?

- Não, Gilberto. Há muito tempo não olho para mulher nenhuma e nem elas olham mais para mim.

- Então temos que partir para as profissionais.

- Profissionais? As meninas de programas? – indagou Atílio.

- Claro! Eu conheço um agenciador. Você escolhe pelo álbum de fotos. Cada avião! Vou ligar para ele.

Gilberto como bom amigo e terapeuta de boteco telefonou imediatamente para o agenciador e logo depois estavam examinando as fotos das meninas. O agenciador, ao lado, dava as características das pretendidas:

- Esta é a Luana; morena, alta, coxas grossa, bunda e peitos grandes. É lindíssima! Faz tudo, mas não beija na boca.

- Então não serve. Estou muito carente; preciso beijar muito - reclamou Atílio.

- Nesse caso, acho que você deve ficar com a Michele, veja que estouro!

- Meu Deus! É essa que eu quero Gilberto.

- Providencie com urgência – determinou com autoridade Gilberto.

O encontro foi sacramentado e alguns dias depois Atílio adentrava ao bar de braços dados com Michele todo sorridente. Os amigos foram tomados de espanto e surpresa. O rapaz todo eufórico informou aos colegas:

- Caros amigos, estou morando num pequeno apartamento e sábado espero todos vocês para comermos uma feijoada preparada pela minha querida Michele. Estou comemorando vida nova.

- Saiu de casa, Atílio? Casou-se com a Michele? - Indagou um dos presentes.

- Estou morando sozinho. A Michele me visita sempre que eu chamo. Casamento eu não quero. Estou ciente da realidade. Quando eu quero amor eu compro. Fica mais barato e não tem chateação.

- E a Michele o que está achando de tudo isso? – perguntou Gilberto.

Rapidamente Atílio respondeu interceptando a namorada.

- A Michele é paga para me elogiar. Ela diz que eu sou lindo, gostoso, que sou o máximo. Ela me chama até de Brad Pitt, não é meu bem?

- Claro meu amor, você é lindo, é o máximo!

- Não disse? Sinceramente, eu gostaria de ser chamado de Marlon Brando ou Paul Newmam e até mesmo de Tarcisio Meira, - sou fã do olhar dele - mas, como ela nem conhece essas pessoas, eu me contento com o Brad Pitt, não é meu bem?

- Claro que você é tudo isso e muito mais – respondeu confirmando e sorridente a moça.

- Ela sabe das coisas! emendou Atílio – ela mente e eu finjo que acredito, assim vamos vivendo muito bem. Não preciso de vida melhor. A vida não é uma ilusão? Então palmas para a fantasia. O que importa é ser feliz. Hoje eu tenho a mulher perfeita, linda, gostosa, nova e que não me aborrece, não preciso de mais nada.

Os amigos deram uma sonora gargalhada e aplaudiram a sabedoria de Atílio.