BUNDAS AO SOL

Ao sol inclemente de verão, rapazes disfarçados de atletas fingem praticar jogging saltando os olhos entre bundas que se bronzeiam.

Uma bandeira brasileira protege a bunda da loira para que a areia incômoda não penetre no biquíni.

Bem perto, um grupo de embebedados desafinam pandeiros e tamborins cantarolando algo ininteligível que serve de ritmo para o balançar de bundas que batem e rebatem entre si. Deveria ser proibido tentar combinar fio dental com celulites. Absoluta incompatibilidade de gênero que pode ocasionar visões tenebrosas.

A espiga de milho cai e um choro se confunde entre a perda dos grãos na areia e o tapa na bunda pequena.

Outra menor ainda recheou a fralda para desespero da mãe.

Um cinquentão procura a carteira no bolso traseiro da bermuda e paga um sorvete à calipígia quase adolescente que se deixa abraçar dissimuladamente.

Um ônibus passa cheio de bundas desejosas de encontrar onde assentar-se.

Vão se apertando enquanto seus donos olham, com mil idéias, as que repousam do outro lado da mureta.

O namorado assanhado apressa-se a ajudar a passar o filtro solar.

Um beliscão da mulher ciumenta afasta um olhar da cena.

Uma freada... Uma buzinada... Uma batida na traseira...

Um palavrão emenda-se ao não elogioso “Bundão”.

Tava olhando para onde? Pergunta um...

Melhor não dizer...

Abundam pessoas para ver o desenlace, distraídas pensando com que cor cobrir as suas no réveillon?

Rosa para muito amor.

Amarela para muito dinheiro.

Branca para a paz.

Se usar as três engorda e perde o charme.

Diz a lenda ser impossível a combinação das três.

Quem pode assegurar sem desconfianças andarem juntos dinheiro, amor e paz ao mesmo tempo?

Que tal andarem nuas e livres?

Felicidade geral na ala masculina da nação que tem usado suas proteções nadegais para esconder dinheiro escuso.

Leves e soltas gerariam tumultos incontroláveis...

Principalmente as lindas.

Paixões intempestivas e separações poderiam causar irremediáveis.

Ódios movidos pelo ciúme e invejas.

Melhor, não!

Que fiquem totalmente desnudas apenas nas capas de revistas e na imaginação do desejo coletivo.

Os praticantes de jogging contam o que viram nos desvios da corrida.

A espiga foi lavada e devorada pela criança.

A fralda trocada diversas vezes.

O sorvete derreteu.

O sol descaiu, caíram pingos anunciando o toró...

O grupo de pagode deve estar dormindo por efeito do álcool.

A bandeira brasileira encapou a loira e se foi balançando.

Uma e outra devem estar ardendo e descascando com insolação.

Os bundões que pararam o trânsito chegaram a um acordo.

Cada um cuida da sua.

Cada um cuide da sua.

Hora de guardar o binóculo.

Amanhã, se fizer sol, tem mais.

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 01/01/2010
Reeditado em 03/01/2010
Código do texto: T2005401
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