ESCRITOR VESTIBULANDO

Escritor vestibulando

Às vezes me pergunto o que eu estou fazendo aqui nesse espaço? Sou péssimo escritor e, aliás, nem sei se estou cometendo algum sacrilégio me autodenominando escritor.

Sou um desastre na digitação, cato milho mais do que pinto, e no português... sei lá... Esse é o meu maior demônio. Sintaxe é algo semelhante aos dragões da cavalaria andante, lá dos contos de Orlando o Furioso. Semântica mais parece a ponte de arco-íris que Thor utilizava para falar com Odin. Rima e métrica mais parecem unidades de medidas. Nas vírgulas a cabeça incha. Elas são verdadeiramente a visão do inferno. E o ponto e vírgula... ahhh, o ponto e vírgula; são um capítulo a parte. Será que mesmos os papas da literatura conseguem ficar realmente à vontade com eles?!

Particularmente, acho que ponto e vírgula são meio parecidos com a mula sem cabeça. Sem ofensa é claro aos estudiosos da matéria e aos filólogos que devem ser apaixonadíssimos por eles. A eles, peço minhas humildes desculpas pela minha ignorância ao frequentar essa praia. Sempre os vejo em exercício contemplativo dessas figuras arquetípicas do nosso idioma escrito, como alguém que contempla o céu estrelado de uma praia meio que deserta. E, eu, como bobo sem entender nada, fico tentando entender como seria doce beber desse vinho.

Gente para tudo!!! Alguém já parou para pensar no travessão... Aliás, quando penso no travessão, logo me vem à mente a figura daquela coisa que se coloca sobre as traves do gol – que sempre insiste em aparecer na hora mais indesejável - desviando a trajetória da bola oriunda de um chute quase perfeito, que tinha o gol o objetivo de sua meta.

A propósito sou escritor faminto, sílabas estou constantemente engolindo-as. Às vezes consigo engolir palavras inteiras sem perceber a ausência e os buracos sem sentido que elas produzem dentro do texto. E as proposições... Essas, definitivamente, são as minhas taras. Eu as como tanto que quase chego a morrer de indigestão. Porém, aos trancos e barrancos tento avançar dentro desse mundo maravilhoso da criação literária. Sou uma espécie de João Teimoso - aqueles bonecos que todos que foram crianças nas décadas de 60 e 70 conheciam bem. A gente por mais que tentasse colocá-los deitados, eles sempre insistiam em ficar em pé. Então, feito João Teimoso, vou tentando caminhar por dentro da escuridão de minha ignorância.

E, lá no escuro do início de minha tentativa primária com as letras, vejo a luz no fim do túnel que pode ser o sol de Luiz Fernando Veríssimo, Guimarães Rosa, Jorge Amado e outros tantos escritores talentosos que ainda conseguem encher de mais brilho o espaço da criação literária. Também não posso negar que esse trilho que me guia para luz da saída dessa minha ignorância, pode ser muito bem o trem que irá me atropelar – criticas severas por me atrever transpor o espaço de ignorância sem o devido embasamento.

Confesso que não tenho como deixar de admirar a arquitetura econômica literária de um Luiz Fernando Veríssimo. Pois, desafio qualquer um tentar reescrever um de seus contos com menos economia de palavras que ele próprio conseguiu utilizar. E os desenhos artísticos traçados em nossas imaginações por Guimarães Rosa! Não são maravilhosos? A cena da batalha em “Grande sertão: veredas” é algo primoroso, cheia de ritmos e dá até pra ver nitidamente os galopes dos cavalos, a correria dos homens e ouvir todos os sons da batalha, gritos, tiros, estrondo de canhões e por aí vai. Engraçado que a criação literária de Guimarães Rosa se manifesta genial desde o título. “Grande sertão” a vida vista de uma forma mais transcendental, ai vem os dois pontos que coloca uma explicação em “Grande sertão”, ou seja, grande sertão é a vida transcendental e veredas são as várias vidas relativas que são vividas dentro do grande sertão.

Talvez eu venha inceptivo alcançar a praia que inspiraram esses grandes escritores. Porém, alcançá-los é outra história e nem essa é a minha pretensão. Pois, o universo costuma ser bastante econômico quando conspira de quando em quanto para criação dos seus gênios. Porém, não há como negar que a literatura é (não digo a mais fácil) ainda uma das formas que o simples mortal encontrou de se imortalizar. Mas segundo um ditado chinês: basta um passo para iniciar uma grande jornada. Eu de forma muito incipiente vou dando os meus primeiros passos. Um dia quem sabe... eu não venha aprender andar e venha talvez fazer verdadeiramente uma grande jornada pelo o universo das letras.

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(Fábio Omena)

Ohhdin
Enviado por Ohhdin em 06/01/2010
Reeditado em 15/10/2012
Código do texto: T2014176
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