O crepúsculo efêmero...
Um luar diferente de todos o que já vimos...
Um desejo cintilante como as estrelas, porém, nem tanto...
Mas, um ar diferente, abrasador e sufocante, envolve o adormecer à beira mar.
As aves noturnas, ao invés do ousarem seu vôo rotineiro, dedicam-se ha horas imóveis de bico aberto olhando para o nada, sem nada compreender, quem sabe, sabedora de tudo.
A lua, não tão cor de prata, tornou-se avermelhada, como se sangrasse por um corte profundo em sua carne.
A brisa que outrora gélida, hoje, parece o vapor de um vulcão ativo, o mar tão sereno quanto assustador, desperta a curiosidade de quem nunca o vira assim.
É como se algo estivesse por vir.
É exatamente utópico, pensar em quantas vezes sentei-me nas pedras a beira mar, bebendo meu vinho tinto contemplando a velha mãe com seu fulgor exuberante refletido ao espelho oceano.
Quantas vezes amei alí, observado pelo universo, com a supervisão dos grandiosos deuses mitológicos.
Baco meu padrinho, deus do amor total, da entrega que transcende a sabedoria humana.
Choca-se com o caminho árduo que acerca nosso viver.
Eros, pregando peças e dando risadas sarcásticas, não mais lança sua flecha para implementar suas conquistas mais ousadas ou absurdas.
Aos olhos vejo brotar a lágrima solitária de uma única verdade:
“Estamos caminhando rumo ao nada”.
Não mais sinto aquele cheirinho gostoso da maresia, a madrugada torna-se angustiante, mas, ainda sim descobre-se alguma beleza preservada, é simplesmente a noite que é invadida pelo amanhecer, assim quando o sol anuncia-se ao horizonte, os reflexos exuberam e dão um colorido impar ao despertar para um novo dia.
Alguns pássaros sussurram desordenadamente seus cantos mais variados, como uma canção de apêlo há uma nova vida, uma nova realidade.
O monumento maior dos poetas que profetizam e celebram o amor está em estado de convalecência e terminal!
- Como continuar a vida sem mais suas belezas naturais simplórias mas, de profunda complexidade?
- Como colher aquela flor no caminho, arranjá-la aos cabelos ainda úmidos da amada?
Tempos imprópios para o sonho, a realidade é nua e crua.
Fica uma pergunta fatídica:
“Será que ainda teremos tempo para amar e viver?
- Quando será?
- O sol, a lua, a brisa e a vida voltará a comungar suas excentricidades fantásticas de um novo amanhecer?
- É hora de uma profunda reflexão sobre tudo e todos...
- Vocês não acham?
Carlos Sant’Anna