Sebo

Encontrar um sebo para mim é parecido com o de encontrar um bom brechó. É fascinante procurar peças diferentes do normal, do habitual, irreverentes, principalmente porque as observo pensando se poderiam se encaixar em alguma peça teatral para o futuro, ou busco por uma peça muito antiga que queira guardar para repassar como uma pequena relíquia. Garimpar me encanta, por isso procurar por bons livros em sebos é uma tarefa bastante prazerosa, da qual faço sentindo-me uma Indiana Jones da Literatura.

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Nem sempre, mas a maioria está ali por serem boas, porque alguém escolheu lê-las, foram compradas por serem clássicos, outras, por serem “Best Sellers”. O sebo traz consigo histórias, anotações, lembranças e hábitos. Às vezes se pode encontrar um livro com uma dedicatória, como uma que li: “Para Oscar, meu querido e eterno amor, Adelaide”. Quem foram Oscar e Adelaide? Simples pessoas como eu, como você, que amam, que sofrem. Os livros de um sebo têm mais vida, mais amores, mais poesia, não saíram direto do forno para as livrarias megastore e depois para suas mãos. Viajaram por lares onde tentaram suprir angústias, questionamentos, dúvidas, prazeres.

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Porque é para isso que os clássicos servem. Essa é a sua missão. Quem lê busca o inexplicável, o inatingível, a resposta para o sofrimento, a certeza da dúvida. Procura por um espelho, quer ter-se refletido sua história na do outro, quer compreender por meio do outro, o que não é possível ter compreensão. Precisa da resposta, e esta vem com metáforas eloquentes que respondem as suas e as demais.

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E na beleza dessa procura, deparei-me com uma surpresa. Comprado numa cidade há 350 Km da minha, “O amante” de Margueritte Duras veio sem a última página. Não saber o final da história pode ser bastante poético, porém pode também ser falta de cuidado do dono do sebo. Nem tudo é perfeito.