1: O Azul
O dia está lindo. O clima, um convite para uma caminhada. Resolvo ir ao encontro a pé. Saio um pouco antes e sigo pelas calçadas apreciando o passeio. O céu azul emoldura a paisagem urbana. Aprazível.
Chego ao local marcado. Um bonito café, minha primeira impressão. As poucas mesas, bem distribuídas, conseguem preencher o espaço de maneira agradável; boa circulação com uma proximidade acolhedora. Bastante aconchegante. A decoração, de muito bom gosto, reune simplicidade e requinte. A estante cheia livros dá um toque descontraído ao local.
Observo algumas pessoas. Um senhor de óculos tomando seu café com um livro em mãos; duas senhoras conversando atentas, com seus sucos à mesa; um casal jovem comendo umas panquecas; outro casal, mais maduro, com as mãos dadas sobre a mesa. Meu exame silencioso do ambiente é quebrado por um “Boa tarde!”. Uma moça se aproxima com um sorriso:
- O senhor deseja uma mesa?
- Boa tarde! Aguardo uma pessoa.
- Fica à vontade.
- Obrigado.
Dirijo-me à estante de livros. Cumprimento o senhor que abaixou seu livro ao me notar.
Os livros estão cuidadosamente desordenados. Alguns de pé, outros deitados. Algumas prateleiras cheias, outras não. A disposição desarranjada dá harmonia à estante. Passo o olhar pelos títulos, inclinando a cabeça para acompanhar o sentido da escrita. Uma rápida olhada para o lado, lá está ela em uma das mesas. Levanta-se com um breve aceno.
Vou até a mesa.
- Olá! - beijo-a delicadamente.
Busco a sua cadeira com a mão fazendo menção para que se sente.
- Obrigada.
Sento-me a sua frente, empurrando a cadeira onde está a sua bolsa.
- Então, tudo tranquilo? - pergunto-lhe com um olhar sincero.
- Tudo. Viste alguma outra coisa?
- Sim. Uma maravilha...
A moça sorridente chega com um bloco e lápis à mão:
- Desejam algo para beber ou comer?
Olho para ela, na espera de seu desejo.
- Um capuccino, por favor.
- Para mim um expresso, por favor - desviando o olhar para a moça sorridente.
- Perfeito! - toma nota em seu bloco e sai levando consigo o sorriso.
Volto o olhar para ela. Seus olhos castanhos esverdeados estão ansiosos:
- Uma maravilha?
- Sim. Um lugar muito tranquilo, afastado. Tem até um riacho...
- Onde? No campo?
- Pensei em curtirmos a natureza...
- Puxa! A ideia era aproveitarmos as férias na praia, não?
- Era. Mas, para escapar um pouco do ritmo cidade...
- Sim! Mas nada melhor que o agito da praia. Com amigos, diversão...
Ela olha-me nos olhos, com aquele olhar persuasivo:
- Nós somos jovens, temos que aproveitar mais. Curtir pessoas, não a natureza...
Nesse instante a moça sorridente volta com o capuccino e o expresso. Serve-nos.
- Obrigado - devolvo-lhe o sorriso.
Penso sobre o que ela estava me dizendo. E, também, no seu olhar. Nada dos argumentos de sol, mar e areia. Apenas um olhar e a proposta de curtir com os amigos. A sua ideia de praia é interessante. Percebo que ela pode ter razão. Isso! Sair da cidade, com todo o agito, e ter mais tempo com os amigos. Parece-me bastante mais divertido. Acho que uma praia é o ideal.
- Certo!
- Certo?
- É. Vamos para a praia - concluo.
Acho que eu a surpreendi. Tenho a certeza que ela iria tentar todos os argumentos para me convencer. Sua expressão é que estava pensando em muitas outras vantagens da praia. Mas bastava. Estava decidido. Até entusiasmado. Tomo um pouco do meu expresso.
* Roteiro para leitura desta crônica:
1: O Azul; 2: O Vermelho; 3: O Violeta.