Um novo caminho para o amor

"... não sei quem vive ou morre, quem repousa ou desperta, mas é teu coração o que reparte em meu peito os dons da aurora..." ( Pablo Neruda)

Todos hão de dizer que o amor é o mesmo das Cruzadas, do épico,dos mares nunca dantes navegados, da história fantástica e trágica dos Capuletto e Montechios.., mas non è vero.

Uma revolução de costumes está em curso. O amor romântico tem seus dias contados. Na era dos computadores e I pods, não é mais concebível que a vida afetiva das pessoas permaneça inalterada, a mesma de quando nem existia luz elétrica. A idéia do amor essa simbiose entre dois seres que buscam ser " uma só carne" , tem de ser revista. Até porque esse tipo de amor - que resulta em ciúmes, dominação, dependência ou perda da identidade - nunca deu certo.

Surge agora um novo tipo de amor.

Os psiquiatras vem tentando entender o que de real se esconde por detrás das relações amorosas - e sobretudo do sofrimento de que a maioria dos amantes padece.

Talvez a resposta esteja no trauma do nascimento. Do aconchego e harmonia do útero, a criança subitamente é lançada a um mundo hostil, desprotegido e sem conforto. Essa ruptura brusca resulta numa cicatriz umbilical psíquica, espécie de " buraco" , gerando intenso desejo de voltar a preenchê-lo.

O " buraco" jamais será preenchido. Somos incompletos por natureza - tem sido, através dos tempos, a raiz de sofrimentos.

É, somos incompletos.

O amor mudou, sim.

A escolha do parceiro obedece a motivos inconscientes. Buscamos simbiose, mas ao mesmo tempo a tememos. Mas ao nos depararmos com alguém a quem amar, acionamos mecanismos de antiamor. Temos medo de perder a identidade. Medo da repartição , da dor da separação. Medo da felicidade. Medo da inveja dos outros. Medo da entrega. Medo do prazer. Medo do medo.

A maioria dos casais se formam por diferenças. Essas talvez, são as piores uniões. O tímido e o extrovertido. O dócil e o violento. O organizado e o bagunceiro. O sexy e o comedido. Na prática porém, a união se dará entre um generoso e um egoísta, pois um dos dois, o mais tolerante, fará sempre concessões ao modo do outro. Começa aí uma batalha com consequências terríveis.

Dizem que os casais que não " botam prá fora " suas mágoas tem uma vida monótona.. e pouca intimidade. Puro engano. As brigas são sempre repetitivas e " intimidade não é dividir o mesmo banheiro" , brigar ou xingar, e sim, compartilhar os segredos mais íntimos, sem medo de ser julgado ou criticado.

O amor intenso e recíproco é gratificante, mas extremamente exigente.

Na verdade, " o buraco" nunca será preenchido, por isso temos de nos enxergar como unidades e não como metades.

Não, não viveremos sem amor. Só que para além desse amor que conhecemos, desponta uma relação nova. Ela surge como uma opção de quem se aceita incompleto, tem prazer em ficar sozinho, mas se deleita com a calorosa intimidade no convívio com a outra criatura.

Por não haver fusão, nessa nova opção, não existem cobranças, dominação, ciúme. Essa relação é uma amizade sólida, confiável, respeitadora dos direitos do outro. E também parecida com a paixão, pelo grau de intimidade e intensidade - inclusive sexual. Sei que o interesse sexual só se mantém quando cada parceiro continua vendo o outro como um ser único e separado dele.

Esse amor libertário é, a meu ver, o único que sobreviverá no futuro. São mudanças que considero inexoráveis.

Não temos escolha. Como também não tivemos quando o mundo transformou e os computadores invadiram nossas vidas..

Rejane Savegnago
Enviado por Rejane Savegnago em 22/01/2010
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