O Espelho do "EU SOZINHO".

O INDIVÍDUO

Engraçado... Na verdade, na verdade não temos nada além dos campos que semeamos em nossos corações. Porque tudo passará... Pais, filhos, esposas, esposos, amigos, carreiras... Tudo! E, no final, seremos apenas nós e as sementes que conseguimos guardar durante a vida. Então, quando tudo estiver deserto na tua consciência é hora de semear. Se forem boas sementes, construiremos o paraíso, o contrário, teremos o inferno. Sempre, na hora da passagem final estaremos a sós. E é nessa hora que experimentamos o gosto dos frutos de nossos corações!!!

Será que estamos preparados para esse encontro fatal?! Claro que não! Ninguém está preparado para o dia D. O soldado quando está no embarque para o campo de batalha, enquanto se despede de seus familiares, amigos e suas namoradas tudo parece festa, porém ao entrar na embarcação tudo muda quando está só. É o momento do eu sozinho. A hora da incerteza frente ao desconhecido. “...E agora!” Apenas os olhares cortando a própria consciência, buscando desesperadamente por dentro de seus interiores algo que faça sentido.

Apreendi de uma forma trágica o verdadeiro sentido da palavra individuo. Meu pai a ensinou-me da maneira mais didática possível. Lembro-me dele ter dito com lágrimas nos cantos dos olhos, num dos poucos rompentes de lucidez, quando já muito debilitado, por uma grave enfermidade que acabaria por lhe tirar a vida, que estava só, extremamente só. E, eu sem entender o que ele dizia. Disse-lhe: - não, meu pai! O senhor não está só! Eu estou aqui ao seu lado! Ele virou rosto e entrou em seu universo particular.

À beira da morte, já em estado comatoso, podia se escutar murmúrios de memórias ininteligíveis, semelhantes aos ruídos de ondas que chegam à praia e se quebram na areia vinda de oceanos longínquos. Assim meu pai partiu... só como veio ao mundo. Tomará que, se há um outro lado da vida, como o que existe do outro lado do ventre materno, também lá possa ter mãos amigas a ampará-lo!

Só depois então de refeito desse turbilhão de emoções. Pude entender o verdadeiro sentido da palavra “INDIVÍDUO” . Na verdade, por mais que pareça o contrário estamos sempre a sós.

Porque quando na felicidade extrema, ninguém estará dentro de nossos corações para saber como realmente ele está se incendiando. Assim como na angústia mais profunda, ninguém saberá de fato como estamos nos afogando no oceano de nossa melancolia.

Lembro-me de ter ouvido o Judoca brasileiro, Rogério Sampaio, medalhista de ouro em Barcelona -92, falar que quando colocou a medalha no peito e passeou só pelas ruas de Barcelona, ele dizia que se sentia tão profundamente só que parecia que era o único ser vivo na face do universo. Estava num estado tão profundo de alteração de consciência que parecia que estava pisando em nuvens, tamanho era o seu êxtase. Ou seja, por mais que pai, mãe, amigos, conhecidos e afins estivessem também felizes e orgulhosos com sua conquista, ninguém poderia realmente saber o que ele sentiu no momento da glória.

É muito bom estarmos repleto de pessoas ao nosso lado: filhos, esposa, pais, amigos e etc.. Porém, devemos sempre lembrar que na maioria das vezes estamos recolhidos na cela solitária de nossas consciências, onde desenvolvemos nossos estudos e trabalhos na tentativa de compreender a existência de nossa humanidade. Se ao sairmos de nossas celas, encontramos pessoas amigas com as quais podemos compartilhar o recreio e nossas experiências... Ótimo!

Em outras palavras, a vida que se vive por dentro de nossas almas não pode ser compartilhada com mais ninguém. Ela nos pertence e apenas a nós. Porque aquela alegria mais profunda, de passar por exemplo, por uma prova extremamente difícil, ela é sentida em nós, bem como aquela dor mais profunda também somente em nós ela é sentida. Pois tanto a conquista como a derrota ela é sempre um evento individual de seus partícipes. Por mais que possamos irradiar alegria ou dor aos outros, o epicentro está sempre no interior de nossos corações.

Esse é o verdadeiro sentido da palavra “INDIVÍDUO”, quando o último enfermeiro sai, fecha a porta e apaga a luz e nós nos vemos diante da grande “DE CiSSÃO”.

(Omena)

Ohhdin
Enviado por Ohhdin em 23/01/2010
Reeditado em 20/03/2010
Código do texto: T2047158