Valores

Valores

Ontem estava fazendo meu aquecimento para correr em um parque aqui de Brasília e me surpreendi com um bom dia, fiquei surpreso, pois Brasília é a famosa terra do clima seco, de pessoas frias, a terra do ter e não do ser, levantei minha cabeça e fui o único a responder aquele bom dia, dado por aquele homem de meia-idade, tatuado, mp3 no ouvido. Foi então que percebi que nesses quase 2 anos que freqüento esse parque foi o primeiro bom dia que recebi e que escutei alguém dá a um desconhecido.

Foi um bom dia que me remeteu ao passado, lembrando como os valores mudaram e nós não reagimos à mudança, ao contrário, nos entregamos sem nenhuma luta.

Lembrei-me uma vez que estava andando com meu pai, eu ainda era criança, e pensar que no próximo dia 06 já irei completar trinta e uns (não precisam me encher de presente, contento-me com uma televisão de tela de plasma de 41 polegadas, quem me conhece sabe que não sou de muito luxo.) Pois como eu dizia, estava caminhando com meu pai e ele deu boa noite a um homem que passava por nós, eu de imediato perguntei quem era, ele respondeu que não sabia, eu continuei e perguntei, porque então o senhor deu boa noite, ele então finalizou: - não é preciso conhecer alguém para cumprimentar.

Outra lembrança que carrego comigo, foi quando fui pego jogando bola na sala de aula, logo eu que era o vice-líder da classe, fomos levado à presença do então Vice-Diretor do Liceu do Ceará, quando o Liceu ainda era o respeitado Liceu, acho que o vice-diretor se chamava Brizeno, mesmo sabendo que não estávamos ali como visitas ou por uma boa ação, ele fez questão de levantar de sua cadeira e apertar a mão de cada um e nos disse: - nunca cumprimente uma pessoa sentada, o simples levantar já é uma reverência que pode fazer grande diferença. Apesar de nem precisar dizer que fui substituído na vice-liderança da turma, aquelas palavras marcaram para sempre minha vida. Fui levado a presenças de outros diretores em outras ocasiões, quanta injustiça, mas nem um deles levantou-se ou me deu a mão.

Quando eu era criança aprendi a chamar todo mundo de senhor, de senhora, não de tia, de tio, isso era reservado aos irmãos de nossos pais, ou chamar de “veio”.

Também fui ensinado a dá lugar aos mais velhos, a dá preferência às mulheres.

Mas hoje percebo o quanto as coisas mudaram, o quanto valores foram sendo deixados para trás, como e difícil dá um bom dia, pedir desculpas, parabenizar e quando acontece é automático, o bom dia não é dado nem com a boca, imagine com o coração, ele é dito apenas com os lábios, sem sorriso, sem um olhar. Pedir desculpas, para alguns é preferível a morte. O aperto de mão poderia ser chamado de toque de mão, pois na maioria das vezes é um gesto sem emoção, sem força, sem calor, é quase uma obrigação.

Estamos numa época que a cada dia aprendemos mais coisas, seja pela Internet, pela televisão, pelos jornais, somos bombardeados com todos tipos de informações, que nem temos mais tempo para reconhecer e praticar valores tão simples e importantes. Paulo Freire disse que chegaria um tempo que teríamos que aprender a desaprender, espero que esse tempo chegue logo, assim não ficarei tão surpreso quando receber novamente um bom dia de um estranho.