Uma pererequinha de nada

Veja você como são as coisas: estava eu outro dia tomando chimarrão com meus pais debaixo de uma parreira de uva quando senti uma coisa gelada cair e grudar no meu ombro. Olhei. Era uma perereca, uma pererecona. Mas, antes de olhar e ver que era uma perereca, numa fração de tempo eu pensei: ‘como pode estar caindo folha molhada dessa parreira se nem choveu?’, depois eu pensei: ‘será um cacho de uva podre? Mas não ia ficar grudado...’. Bem, era uma perereca. Como ela pulou no meu ombro, que não é um lugar que eu consiga sacudir assim tão eficientemente, deu tempo de a minha mãe e o meu pai rirem bastante até eu conseguir me livrar da perereca gigante, e olha que eu até fui comportada, nem gritei.

Pois ontem à noite a caixa de luz da minha casa pegou fogo enquanto eu estava no banho. Todo mundo saiu pra rua ver o que tinha acontecido e ficou nervoso e começou a dar ideia e citar razões pra para a sobrecarga e dizer ‘e agora? e agora?’ e o meu pai mandou todo mundo ir dormir. Todo mundo foi dormir.

Todo mundo foi dormir no escuro e sem energia elétrica, isso significa sem barulho de televisão, nem ventilador, nem nada. Minha mãe levantou da cama pra fazer sabe-se Deus o quê. No escuro. Depois eu ouvi ela voltando pra cama e ouvi, no meio daquele silêncio, um estrondo, uma correria e ela gritando:

- Ai! É um bicho! Tem um bicho ali! Eu pisei numa coisa gelada, acho que é uma cobra!

Lá foi todo mundo de novo ver o que era. Como não tinha luz em lugar nenhum e ela disse que era um bicho tão grande que ela achava que era uma cobra, peguei meu super celular com lanterna e fui catar o tal bicho, que eu não ia dormir com uma cobra em casa.

Procurei por tudo. Debaixo da cama, atrás do sofá, atrás da porta. Depois ela disse que podia estar mais pra lá, porque o bicho veio desde a cozinha com ela. Olhei mais pra lá. Nada. Aí meu pai mandou de novo todo mundo ir dormir que aquilo era viagem da minha mãe. E fecharam a porta do quarto.

Não satisfeita, eu apontei a lanterna pra parede. E lá estava: uma perereca, mas uma perereca de nada, uma pererequinha ínfima.

- Mãe, levanta e vem aqui ver o bicho tão grande que parecia uma cobra.

Ela veio, todo mundo veio de novo. Olhei pra ela e perguntei:

- A mãe não tem pena?

Olhei pra pererequinha e disse:

- Desculpa ela, tá? Foi sem querer.

E todo mundo foi dormir de novo...

Natália Cristina de Almeida Souza
Enviado por Natália Cristina de Almeida Souza em 28/01/2010
Reeditado em 12/08/2011
Código do texto: T2056300
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.