Momentos alarmantes

Enquanto alguns ficam em suspenso com as consequências que as chuvas vêm causando há dois meses, mais ou menos, políticos chegam diante das emissoras de TV decretando estado de calamidade pública. Para mim soa como um sino que retine e nada faz, oco, vazio, sem expressão. De que adianta falarem uma frase de efeito se não providenciam o que realmente é fundamental nessas horas? As famílias que vivem nesses locais de risco e sem proteção alguma provavelmente não tiveram opção de viver melhor, em lugares menos perigosos. Além disso, fatores como o descaso das autoridades (in)competentes, má distribuição de renda para sanar os devidos males que fenômenos da natureza reservam, má educação da população que insiste em jogar lixo e entulho nas vias públicas contribuem para que as fatalidades aconteçam. Não é à toa que pessoas têm sido literalmente tragadas por bueiros de rua, seja por não haver grade de proteção, como pela enxurrada que desce ladeira abaixo. E isso está acontecendo com adultos, nem falo de crianças. É alarmante ficarmos vendo tantas mazelas sem que se cumpram os referidos projetos que não saem do papel. E a cada dia uma nova estatística se evidencia na mídia.

Ontem assisti a um quadro bem diferente: uma árvore tombou na Marginal do Pinheiros em virtude de uma tormenta que novamente assustou à população. A pista ficou interditada e os carros começaram a se acavalar nas outras. Um caminhoneiro passando no local parou, desceu e resolveu intervir na situação. Buscou uma corda dentro do caminhão, amarrou à árvore, deu partida na chave e foi tentando arrastar a árvore. Algumas tentativas depois, outros se achegaram e foram ajudá-lo. Afinal, se um grupo estivesse na façanha, mais rápido o trânsito fluiria. Porque, nesse caso específico, a CET demorou a chegar e quando veio apenas atendeu ao fluxo em lentidão. Mas a atitude do caminhoneiro foi pioneira. Se a cada situação inesperada pessoas se prontificassem em resolver o problema, mais poderíamos desfrutar as beneces, pois todos foram favorecidos com essa simples e desprendida atitude. Ele não se importou em sair debaixo da chuva e procurar atender a uma necessidade. Fez o que tinha de ser feito. Simples assim.

Com isso, podemos definir uma verdade: quem quer faz. Não que apenas a pessoa vá desfrutar os resultados. Principalmente porque mais e mais outras terão os benefícios também de tabela. Temos de descobrir em nossa humanidade que tentar ajudar e corrigir o que está errado faz parte da vida como um todo. Garanto que aquele caminhoneiro terá seu retorno de alguma forma.

São Paulo, 4 de fevereiro de 2010.

Marcela de Baumont
Enviado por Marcela de Baumont em 05/02/2010
Código do texto: T2071248
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.