Adeus Porteira Fechada

Ainda menino de oito anos, eu passeava na companhia de meu pai e dois primos pela planície da Serra da Canastra nas Minas Gerais. Caminhávamos em direção a nascente do majestoso Rio São Francisco.

Foi durante este passeio que me interessei pela primeira vez pelo Ceará. Um cearense de nome original, Doutor Raimundo Nonato, engenheiro que trabalhava nas obras de instalação da hidrelétrica de Furnas e que nos acompanhava no passeio foi quem despertou meu interesse pela terra de Iracema. Isso aconteceu ha mais de 45 anos atrás.

Doutor Raimundo, que se tornara amigo de meu pai contava como era a seca e as dificuldades da vida no sertão cearense, porém quando falava dos Verdes Mares, da água sempre morna, das praias do litoral do estado, deixava os mineiros mortos de inveja. Meu velho pai nunca pode vir ao Ceará, mas isso não impediu que ele se tornasse um profundo conhecedor deste paraíso do nordeste.

Através do seu gosto pela leitura acompanhava lá das Minas Gerais todos os acontecimentos do Ceará. A conversa entre ele e o doutor Raimundo durante aquele passeio fluía como se os dois fossem velhos aliados prontos para resolver os problemas do país. Eu estava mais preocupado em brincar com meus primos e correr pelas trilhas que levavam até a nascente onde a água cristalina e pura do Velho Chico mataria nossa sede.

Só agora posso compreender melhor porque aquela conversa complicada entre adultos no alto da serra me chamou tanto a atenção. Enquanto eles trocavam idéias, eu imaginava como algumas coisas de Minas seriam boas para o Ceará e como algumas coisas do Ceará seriam ótimas para Minas. Com a imaginação dos meus oito anos de idade tudo era possível, trazer o Velho Chico para o sertão pra acabar com a seca e levar os Verdes Mares para banhar as Minas Gerais.

Impossível?

Nada é impossível. As águas do Velho Chico logo estarão cortando o sertão do Ceará.

Levar o Mar pra Minas?

Ora, isso o doutor Raimundo fez. Ao construir a barragem de Furnas, deu aos mineiros um imenso lago, hoje carinhosamente conhecido como o Mar de Minas.

Desde cedo aprendi que o Rio é que vai pro Mar, que do bom é que se vai pro ótimo, que a crença do otimista o leva a ter coragem de tomar à atitude certa, que a atitude certa proporciona o milagre de se fazer o que parece impossível se tornar possível.

O caminho não termina num obstáculo, seja ele uma parede, uma rocha, um desfiladeiro ou simplesmente uma porteira fechada. O caminho só termina quando abandonamos a fé e desistimos de seguir adiante. Eu tenho decido por continuar e as alternativas aparecem. E você. Vai seguir adiante também?

J.Ruy