Pertencer

Pertencer

Não há como negar, as aparências são importantes, e muitas vezes regem a vida das pessoas, como diretrizes pré definidas de como a própria existência da pessoa deve ser conduzida. O exterior pode levar as pessoas a serem admiradas e respeitadas, mas isso na verdade só faz crescer a pressão social na qual o individuo vai se submetendo, com expectativas cada vez mais altas sobre si mesmo, e ao meio de tantas aparências, se torna cada vez mais difícil abandonar todos os padrões e agir espontaneamente, por mais que esteja num contexto informal.

No fundo temos medo de criticas, de julgamentos e claro, com as aparências, quem nunca pensou “mas o que vão pensar se eu fizer isso?”? Sejamos sinceros, desde crianças procuramos ter ou ser iguais a todos, mas de uma maneira diferente, como uma criança que quer ter o mesmo brinquedo igual ao do vizinho, ou um adolescente que coloca um piercing ou ainda um adulto que compra um carro novo em busca de status, tudo em favor de finalmente ser aceito, e sentir como se pertencesse à sociedade.

Tecnicamente o “pertencer” é bastante simples, consiste em se sentir bem em determinado meio e ser aceito no mesmo. Mas todos sabemos como algo tão simples pode ser tão complicado (ou caro), afinal temos que nos livrar de todas as mascaras e medos para sermos realmente espontâneos, e na raridade em que isso ocorre numa sociedade tão preconceituosa, fica ainda mais difícil agradar os expectadores nessa perola da vida.

Prazer semelhante, e igualmente satisfatório, é do fulano que expõe seu novo laptop de ultima geração, fruto de meses de economia, numa mesa de algum café ou biblioteca (que naturalmente tem as instalações necessárias para acomodá-lo) e se põe a executar suas atividades corriqueiras na maior naturalidade, tendo em vista que a maioria dos vizinhos de mesa compartilham de tamanha tecnologia, o puro prazer de que alguém esta reparando e secretamente desejando sua maquina, apesar de já ter algo parecido. Ou ainda o prazer de uma dama a participar de um evento com o vestido que passou meses procurando, e ver que se tivesse economizado qualquer centavo nele, não estaria a altura das outras mulheres no salão.

Pertencer, de certa forma é saber que todo trabalho e esforço que investimos em determinada situação foi recompensado, ou seja, estar em um meio diferente do seu e ter a sensação – ou deveria dizer ilusão?- de que as pessoas ao seu lado são iguais a você, e que provavelmente se as circunstâncias fossem diferentes, poderia efetivamente se tornar parte daquele ambiente. As vezes esse desejo se torna tão intenso que as pessoas efetivamente mudam seu estilo de vida para fazer parte daquele meio, pela pura satisfação de pensar “eu pertenço a este meio”, para sua existência passar a ser parte de um motivo maior.

Mas o tipo de “eu pertenço” que me refiro é diferente... porque mais do que ser aceito em um meio pelo que se tem, é ser aceito pela sua personalidade, e mais do que pertencer ao ambiente, é pertencer a companhia, ao descobrir que há mais do que interesses e gostos em comum, existe uma sintonia comum.

Essa aceitação se torna ainda mais especial quando não é planejada, e o próprio fato de aceitar não consiste em um teste e sim uma conseqüência das ações dos participantes e do contexto em que se encontram. Interessante observar que em momentos como esse não há faz-de-conta, nem receios de criticas ou rodeios para se dizer o que quer, pois mesmo se estas acontecerem são amenizados pelo tom amigável da conversa. Melhor ainda se for atingido o auge da intimidade, quando as barreiras invisíveis que separam os seres humanos forem quebradas, e as pessoas poderem tocar umas nas outras sem segundas conotações ou sem aquele sentimento estranho de quebra de privacidade.

Ao contrario da crença popular, não é preciso estar entre amigos para atingir esse pequeno pedaço de felicidade, bastam conhecidos que estejam na mesma freqüência, como partes de um quebra cabeça, mas naturalmente quem se une num nível tão intimo e ao mesmo tempo tão social com alguém, não ira recordar destas pessoas como colegas, pois irá se orgulhar em dizer que estava em meio a amigos, pensando que talvez você tenha achado algum lugar que você (e não seu laptop ou seu vestido) pertença.

Cielu
Enviado por Cielu em 12/02/2010
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