Remedio?

     Era o ano de 2004, se não me engano. Adoecera profundamente e no fim de um mês estava desnutrida e fraca. O único plano de saúde era sobreviver. Depois tinha medo de hospital (medo não: pavor!). E hospital para quê? Na rede pública só se vai para acabar de morrer,. É o que comprova cada notícia sobre a saúde publica nos jornais. Decidiu então pedir para o marido comprar um remédio que lhe veio à lembrança. Alguém havia falado que servia para curar aquela doença (não façam isso pelo amor de Deus! Vejam no que vai acontecer). Mas que doença se não havia feito nenhum exame para saber do que se tratava. Mas deixando-se isso de lado, a insistência foi tamanha que o marido comprou e entregou-lhe o remédio na mão. “Deixa eu preparar ao menos uma sopa para que tu possas depois, mais fortalecida, tomar esse remédio” disse o marido. “Não, deixe-me tomar apenas com um copo de leite”, disse sem apetite e apressadamente. O marido já conhecendo o seu jeito e que nada que disse a faria mudar de idéia, fez-lhe a vontade e foi para a cozinha. Deitou-se após tomara dita mistura e continuou descansando.
     Depois de alguns minutos, algo estranho começou a acontecer. Era como se se abrisse a caixa torácica, mas precisamente no esterno, por uma compressão intensa e continua, mas era algo que não acontecia fisicamente. Levantou-se vagarosamente com a idéia de chegar até a cozinha e pedir ajuda. Conseguiu chegar até lá, mas antes que terminasse de dizer o que sentia fez-se escuridão. E num segundo subia cada vez mais para o alto (para o que chamamos de céu), mas numa espécie de dimensão paralela.Via lá em baixo outro cenário: uma praia muito bonita onde sobre uma rocha seu corpo debatia-se sendo lavado pelas ondas do mar. Não conseguia sentir dor física nenhuma, pois havia perdido contato como o corpo. Apenas sentia a dor espiritual da separação com o mesmo. Profunda e estranha dor naquele momento. Uma dor que doía sem doer (mas não é a dor de amor de Camões, hein). E aos poucos meu corpo, lá embaixo, era um ponto cada vez menos visível. A altitude e a velocidade com que subia faziam-me gritar um grito sem eco. Rapidamente e subitamente forças alcançaram-me e me desciam numa velocidade inimaginável. E como num relâmpago voltei ao meu corpo. Abri os olhos úmidos de lágrimas como se acordasse de um choro, ou voltasse de um pesadelo, confusa e perguntando por que não me ouviram se eu gritava. Os filhos choravam ao meu redor enquanto o marido  procurava manter a calma. Dizia que tinha me alcançado antes que caísse desmaiada e me trouxera nos braços até o quarto onde tentava me reanimar. Desmaio? Já havia desmaiado em outras ocasiões e sabia muito bem o que era um desmaio e aquilo fôra muito diferente. Só eu sei. Sabe aquela história de EQM (experiência de quase morte)? Acredito que a vivi, quer dizer, morri e revivi.
     Assim, digo a todos os doentes teimosos (como eu era, e ainda sou um pouquinho): nunca tomem remedios sem consulta médica, pois isso ao invés de curar pode matar. Ouçam a voz da experiência, de quem  voltou do outro lado para contar a história.
Marta Cosmo
Enviado por Marta Cosmo em 12/02/2010
Reeditado em 24/03/2010
Código do texto: T2084460
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