MEUS CARROS

Meu primeiro “borrachudo” foi uma "Vemaguete/64" adquirida em Belém do Pará no ano de 1971, apelidada de “Piranga” pela minha princesinha Ana Claudia, na época com seis anos de idade. Eu já tinha carteira de motorista, tirada há quatro anos antes, em Curitiba, mas não possuía carro e aí foi aquela tragédia. Sem prática ou treino algum, assumi o volante da bichinha e saí “dirigindo” pelas ruas centenárias da metrópole da Amazônia. Perigo à vista! ...

O carro toda hora apresentava um problema. Eu o levava à oficina mecânica do “Seu” Bria (ex-craque do Flamengo carioca e ex-jogador do Paissandu paraense), ele consertava, dava-me conselhos sobre como dirigí-lo e, às vezes, até entrava no veículo comigo ao volante, para orientar-me no trânsito. Sempre que eu chegava à sua oficina, o Daniel, um garoto que era ajudante gritava pra dentro:-

“- Seu Bria, aquele moço que só sai de segunda tá aqui! ...”

Fiz barbeiragens, bati e fui batido, mas superei tudo e após ano e meio morando em Belém, tornei-me um craque no volante, rodando por todo o canto a trabalho e, nos finais de semana, passeando com minha família.

Na “Piranga” eu punha todo o time de futebol de salão da “Britânnica” e saíamos pra enfrentar nossos adversários, em partidas duríssimas pelo Campeonato dos Comerciários. Depois dos jogos, em caso de vitória, íamos comemorar tomando aquela cervejinha básica nas biroscas famosas no caís do “Ver o Peso”.

No Recife, comprei um Fusquinha/66, já meio sambado, queimando óleo, mas bom de lataria. Levado pelo amigo João Dias ao mecânico Zé Prequeté, no Barro, mandei fazer o motor do carrinho. O Dias me garantiu que o Zé era um baita mecânico e só tinha um defeito:- apreciava fumar um baseado! Não sei se o “Fusca”, ao ter seu motor recondicionado, absorveu o vício do Zé, o fato é que o carro ficou pra lá de “envenenado”. Era o bicho nas avenidas do Recife e nas estradas que levavam pra fora da cidade, indo pra Porto de Galinhas, Vitória de Santo Antão, Caruaru, Garanhuns e chegando até a Paraíba, na linda João Pessoa e na dinâmica Campina Grande.

No Recife mesmo troquei esse “Fusca”/66 endiabrado por outro 1970, branco, bonitão, que não durou muito e foi vendido pra que eu comprasse um “Fuscão”/1972 cor de caramelo, um belo carro. O bicho era rápido, bem disposto, mas bebia uma gasolina dos diabos, o que me fez voltar para um “Fusca”/1300, ano 73, verde esmeralda, uma joinha de carro, de baixíssima quilometragem, quase zerado. Arnaldo Patrão, gerente do Bradesco na época, meu amigo irmão, me ofereceu esse carro recuperado pelo banco de cliente devedor, e fiz negócio na hora.

Nas idas à “Guarauto”, autorizada Volkswagen no Recife, para revisões de praxe, o carrinho era cobiçado pelo recepcionista Inaldo, o qual, de tanto insistir, acabou me convencendo a trocá-lo por um veículo maior, que atendesse melhor à família crescida e viciada na prática do “camping selvagem” em fins de semana. Era um tal de acampar nas praias de Tamandaré, Porto de Galinhas, Porto Xaréu e Gaibú que não acabava mais. Afora os passeios até lugares mais distantes. Assim, deixei o “Fusca” verde na “Guarauto” e peguei uma “Variant”/74 (modelo do ano), vermelhona, com apenas 10.000 km rodados. Troca infeliz!

Com esse carro, num sábado à tarde, voltando meio chapado da despedida de solteiro do meu amigo Dias, em Boa Viagem, pra Piedade, onde eu morava, em companhia da minha Maria Mari, eu voava, ultrapassando vários outros veículos, pela esquerda, pela direita, apesar dos gritos de protesto da minha mulher. Eu não sei onde estava com a cabeça, só sei que acabei por capotar na Avenida Beira Mar, em Piedade, já próximo de casa. Foi um milagre, pois ambos não sofremos nenhum arranhão e a “Variant” deu perda total, sendo vendida para um ferro velho. Arnaldo Patrão, meu amigo, entrou em cena tentando elevar meu moral bastante baixo.

“- Não, cara, levante a cabeça! Isso acontece. Vá ao banco amanhã e financiamos outro carro pra você! Não entregue os pontos e bola pra frente. Você tem que dirigir!”

Foi assim que, dias depois, eu estava montado em outra “Variant”/73, azul escuro. Mas ela apresentou problemas na caixa-de-marcha, passei pra frente e adquiri outra, ano 1974, azul celeste, lindona. E continuei na batida de sempre, trabalhando, viajando, fazendo meus acampamentos nas praias afastadas em finais de semana, vivendo a vida.

Passado um tempo eu vendi essa “Variant/74” e comprei uma “Brasília”/77 branca, com apenas 9.000 km de rodagem, toda zerada! Uma beleza de carro, que ficou comigo até que nos mudamos para Brasília, em 1980. A “Brasília” foi junto com a mudança e, alguns meses depois, no Distrito Federal, eu a vendi e comprei um “Passat” 1981, beje, excelente carro. Estava com dinheiro e comprei também um “TL-1975”, amarelo ovo, pra minha mulher Maria Mari, tão gostoso que não raro eu deixava o “Passat” em casa e saía pro trabalho com o “TL”.

Um ano e meio depois fiquei desempregado, agora morando em Anápolis/GO e tive que dar um jeito na minha vida:- vendi os dois carros, comprei um carro mais barato, um “Fuscão”/80, azul, e me toquei pra Belo Horizonte em busca de trabalho. Aí fui contratado pra trabalhar em Fortaleza/CE e me mandei de mala, cuia e “Fuscão” pro Ceará. Nova experiência profissional e pessoal em nossas vidas ciganas.

Ficamos três anos em Fortaleza. Nesse ínterim, vendi o “Fuscão”/80 azul e comprei um “Fiat-147/Europa, 1982”, com apenas 11.000 km rodados e inteiraço. Foi um dos melhores carros que já possuí e fiquei com ele por quatro anos. Em novembro/1985 sou transferido para Porto Alegre e o “Fiat/147” foi junto com a mudança. Eu trabalhava, passeava e viajava com ele e a família, curtimos muito o Rio Grande do Sul e suas cidades pitorescas, um barato. Eita carrinho bom, amizades!

Em novembro de 1986 sou novamente transferido, agora pra São Paulo e, de novo, o “Fiat/147” foi com a mudança, minha mulher e filhos pra terra da garoa. Após três anos trabalhando em São Paulo, saio da empresa e decido voltar definitivamente a Belo Horizonte. Assim, aos 11/01/1989 deixamos a Paulicéia Desvairada e, todos no “Fia/147”, pegamos a Fernão Dias e viajamos pra capital mineira, aonde chegamos à noitinha, começando um outro ciclo em nossas vidas.

Em Belô, meu irmão Silvinho encheu-se de amores pelo “Fiat/147” e acabou me comprando o carro, depois de muito insistir. Adquiri um “Chevette”/1983 a álcool, vendi tempos depois e comprei um “Fusca”/1985, marrom. Algum tempo depois um primo meu, o Flavio (Crioulo), também gamou nesse fusquinha (modéstia à parte, meus carros sempre foram muito bem cuidados) e acabou comprando-o. Só que eu já estava de olho num “Opala/Comodoro/1979” e acabei ficando com o bicho e brigando com minha mulher, que não queria de jeito nenhum carro grande. Tempos depois vendi o “Opala” e peguei um “Chevette/DL”, ano 1994, ficando com o mesmo até vendê-lo alguns anos depois.

Como viram, tive muitos carros em minha vida, mas só três deixaram grande saudade:- a “Piranga” (Vemaguete/1974) de Belém do Pará, por ter sido o primeiro borrachudo, o “Fusquinha/1966” do Recife e o “Fiat/147, 1982”, de Fortaleza, Porto Alegre, São Paulo e Belo Horizonte.

Valeu, amizades! ...

B.Hte.,18/02/10 -o-o-o-o-o-

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 18/02/2010
Reeditado em 23/02/2010
Código do texto: T2094077
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